quarta-feira, 25 de abril de 2018


LIVRO : “JOANNA DE ÂNGELIS AO ALCANCE DE TODOS
(Josué Douglas Rodrigues)

CAPÍTULO 1 - O SER HUMANO E SUA TOTALIDADE
1.1 - ESTRUTURA BIPOLAR E O INCONSCIENTE
- Guerras, abuso de poder, desigualdades sociais calamitosas, criminalidade, racismo e violência em suas mais diversas formas parecem contrastar com o progresso obtido

- A origem dessa incoerência na história humana parece residir na profunda divisão ou fragmentação, que acontece no íntimo de cada  ser humano

- A respeito de tal cisão, Joanna de Ângelis nos ensina que : “Um eu opõe-se ao outro eu em intérmina luta interior. Um é consciente, vigilante; o outro é inconsciente, adormecido, que desperta acionado pelo seu oposto

- Para que possamos entender melhor essa estrutura fragmentada do ser humano, como estrutura bipolar, é conveniente que compreendamos os conceitos Junguianos de inconsciente pessoal e coletivo, aos quais a autora espiritual frequentemente faz referências

- O termo inconsciente são como arquivos de experiências vividas aos quais, por diversos motivos, não temos acesso permanente, ou seja, permanecem quase sempre fora da nossa lembrança ou percepção consciente, embora influenciem de forma constante e intensa todas as nossas ações

- Carl Gustav Jung estabeleceu que o inconsciente é um verdadeiro oceano, no qual se encontra a consciência mergulhada quase totalmente. É como um iceberg, cuja parte visível seria a área da consciência, portanto, apenas cinco por cento do volume daquela montanha de gelo ainda pouquíssimo conhecida. A consciência pode ser comparada a uma rolha flutuando no enorme oceano

- Indubitavelmente, nesse oceano encontram-se guardadas todas as experiências do ser, desde as suas primeiras expressões, atravessando os períodos de desenvolvimento e evolução, até o momento de lucidez do pensamento lógico, no qual hoje transita com vistas ao estágio mais elevado do pensamento cósmico  para onde ruma

- Assim, segundo Jung, já nascemos herdando um conjunto imenso de experiências vividas por nós e por toda a humanidade ao longo dos tempos, que são acessados a partir de uma camada profunda de nossa psique. É a esse conjunto de experiências que Jung denomina inconsciente coletivo

- O origem do inconsciente coletivo confunde-se com a própria origem do Espírito humano, por exemplo, à sobrevivência individual e à preservação da espécie

- Uma outra forma simplificada de compreendermos ao menos parte desse conceito é atentarmos ao que comumente chamamos de instintos, embora existam outras manifestações do Inconsciente coletivo que não são propriamente instintos, as quais Jung denomina arquétipos

- O inconsciente pessoal é resultante de experiência individuais que, por motivos diversos, ficaram inconscientemente arquivadas em nossa psique e seu marco divisório com o consciente não é bem  definido, uma vez que corresponde a aspectos da experiência individual que, em algum momento, foram incômodos, inadequados ou inúteis, sendo, por isso mesmo, arquivados. Trata-se, portanto, de conteúdos que ficam ocultos, porém não de forma permanente

- Diz Jung : “Os arquétipos forçam a percepção e a intuição a assumirem determinados padrões especificamente humanos”... “Os Instintos  e os arquétipos formam conjuntamente o inconsciente coletivo”... “Os arquétipos têm esta mesma qualidade em comum com os instintos, isto é, são também fenômenos coletivos”
- O exemplo mais clássico é o “arquétipo materno” que representa a experiência, as imagens e as emoções da maternidade. É esse arquétipo que faz com que mãe e filho comunguem, por exemplo, a harmonia dos gestos e emoções próprios da amamentação sem que tenham sido instruídos a respeito

- Há arquétipos com raízes muito profundas e remotas no desenvolvimento coletivo da alma humana, como por exemplo a crença em Deus e na vida futura além-túmulo que são arquétipos provenientes da origem da evolução e estão bem definidos e presentes em todas as culturas humanas, embora, como todo arquétipo, tenham em cada cultura e em cada indivíduo sua expressão e alegorias próprias


1.2 - A PERCEPÇÃO PRÁTICA DA FRAGMENTAÇÃO
- A capacidade de identificar impulsos inconscientes e controlá-los cria a possibilidade de nos libertarmos de sofrimentos desnecessários

- Joanna de Ângelis nos alerta que pode haver armadilhas perigosas na busca dessa libertação : “pessoas inexperientes, quando se dão conta dos opostos no seu mundo íntimo, afligem-se desnecessariamente, formulando conceitos indevidos e punitivos, como se as manifestações do inconsciente signifiquem inferioridade, promiscuidade, dando origem a culpas injustificáveis pelo fato de existirem”... “Esses conflitos não devem ser combatidos como inimigos num campo de batalha, mas atendidos, orientados, esclarecidos, libertando-se deles pela sua conscientização, de forma que a autoconsciência experimente bem-estar pela conquista realizada internamente

- Nada do que procede do inconsciente é inferior, ruim ou impuro, mas urge nos darmos conta de que o que pode tornar nefasto é a maneira como lidamos com os estímulos ou impulsos, devendo sim controlá-los e canalizá-los, sem jamais negar a existência dos mesmos

- A compreensão de que o sentimento de ofensa é sempre resultado da maneira como processamos tais fatos externos é essencial. Espíritos Superiores sequer experimentam a necessidades de conceder perdão, uma vez que não se sentem ofendidos ou atingido

- Portanto, ter consciência desses atos inconscientes, de sua origem e da forma como interagem com nosso cotidiano é condição indispensável, para atingirmos a serenidade desejada, não bastando, entretanto, conhecê-los, mas também, hamonizá-los com nossas atitudes e sentimentos

- A partir desse esforço de análise, poderemos perceber que, por detrás dessa criação mental desastrosa, existem impressões, provenientes do Inconsciente, sendo a razão do sofrimentos e da tristeza

- A não aceitação no meio social em que se vive pode afrontar o instinto ou o “arquétipo gregário” , que traz em si o horror à solidão e à rejeição

- E importante que compreendamos que não é conveniente negar ou reprimir reações tidas como inadequadas, mas sim reconhecer sua natureza e origem, ou seja, que após ter identificado tais reações, impeçamos que elas tomem conta de nosso campo emocional

- Em se tratando de agressividade ou medo é bastante conveniente sabermos que há um mecanismo inconsciente, instintivo e genético, que diante de uma situação de risco físico, deflagra uma reação fisiológica denominada pelos psicólogos de “reação de luta ou fuga”, por exemplo : É bastante comum  que se deflagre uma “reação de luta ou fuga” , quando chega o momento de enfrentarmos um exame final ou uma entrevista de seleção para emprego

- Há um segundo passo nesse processo libertador, que Jung denomina de “Individuação”, que irá nos libertar não apenas da influência descontrolada dos conteúdos inconscientes, mas também das limitações decorrentes da relativa desconexão do nosso consciente com a realidade espiritual

- Este passo é sempre, ou quase sempre, precedido por intuições ou “insights”, que Joanna de Ângelis define como “campos admiráveis extrafísicos da percepção”, que levam à individuação e representam a superação da lógica apenas advinda do intelecto


1.3 - PERSONA E SOMBRA
- A Psicologia Analítica, de Carl Gustav Jung, assim analisa o que ela chama de máscara : “Persona é um complicado sistema de relação entre a consciência individual e a sociedade; é uma espécie de máscara destinada, por um lado, a produzir um determinado efeito sobre os outros e por outro lado a ocultar a verdadeira natureza do indivíduo"

- Dessa forma, um indivíduo cria para si tantas “máscaras” quantos forem os papéis que deva desempenhar em sociedade, pois em alguns momentos será o profissional, em outros, cônjuge, filho(a), esportista, etc

- Se por um lado a ação de desenvolver “máscaras” tem por objetivo fazer com que o indivíduo se harmonize com a sociedade em que vive, por outro pode ser fonte de conflitos, uma vez que há em tudo o que é ocultado ou reprimido, uma energia que busca manifestar-se de algum modo, cujo vazão ocorrerá cedo ou tarde, seja de forma descontrolado e desastrosa, como numa represa sem comportas, que transborda, seja de forma controlada e dirigida, à semelhança da represa provida de comportas, capazes de controlar a vazão

- Uma criança, quando percebe a desaprovação dos pais ao manifestar qualquer emoção, estará desenvolvendo já na infância uma máscara de frieza emocional que não corresponde a sua verdadeira natureza,  afastando-se desse modo de viver sua individualidade e, por necessitar da aprovação daqueles que lhes são de extrema importância, adapta-se às expectativas dos mesmos
- O conjunto dos conteúdos reprimidos em função da construção da máscara forma o que a Psicologia Junguiana denomina de Sombra

- Na situação acima citada, uma personalidade afetuosa e emotiva será, inconscientemente, reprimida e fará parte da Sombra, e todos os conteúdos assim reprimidos são despejados no inconsciente, mas nem sempre por isso deixam de existir, e de alguma forma irão se manifestar
- Para nos adaptarmos ao meio social, criamos a máscara, a qual provoca o surgimento da Sombra, que pode ser fonte inconsciente de transtornos, quando composto de conteúdos, que tenham sido reprimidos e não compreendidos, controlados e harmonizados, racionalmente
- Disse Jung: “A Sombra não consiste apenas de tendências moralmente repreensivas, mas também demonstra várias boas qualidades, como instintos normais, reações apropriadas, insights realidades, impulsos criativos, etc.”

- Outra via construtiva para o direcionamento de energias contidas na máscara é o uso da criatividade, manifestada nas artes em geral. A arte  jamais seria concretizada de forma plena, se contasse apenas com o talento do artista

- Há a necessidade do conteúdo motivacional, da ideia a ser externada e é essa energia proveniente da Sombra, que torna a obra expressiva e brilhante, explicando a razão pela qual tantos gênios da arte são indivíduos de postura rebelde e excêntrica, pois há neles muita energia represada em busca de manifestação

- Raivas, frustrações, mágoas e emoções negativas que poderiam extravasar através de comportamentos hostis e incompatíveis com uma vida social harmonizada são visíveis em telas, esculturas, músicas e em todo tipo de criação artística 

- Não é de se estanhar que depois de ter pintado várias telas e ser rejeitado pela Academia de Belas Artes de Viena, Adolfo Hitler tenha se tornado o autor de tantos horrores

- Transtornos frequentes, advindos da máscara, podem dar-se quando há excessiva identificação do indivíduo com a mesma, a ponto de com ela se confundir como se fora parte de sua essência

- Um exemplo disso é o indivíduo que, uma vez eleito senador, desempenhe esse papel a cada hora do dia, todos os dias de sua vida, a ponto de pretender exercer sua autoridade de senador com todos que o rodeiam e imaginando-se digno de receber sempre o tratamento dispensado a um senador em todas as circunstâncias da sua vida, deixando de desempenhar satisfatoriamente outros papeis, como de pai, filho, marido, etc

- Segundo Joanna de Ângelis : “No caleidoscópio do comportamento humano há, quase sempre, uma grande preocupação por mais “parecer” do que “ser”, dando origem aos homens espelhos, aqueles que não tendo identidade própria, refletem os modismos, as imposições, as opiniões alheias, pois eles se tornam o que agrada as pessoas com quem convivem” (Livro: “O Homem Integral”)

- Vê-se, assim, que a massificação e os hábitos irrefletidos podem construir Máscaras arraigadas que debilitam nossa individualidade

- Os transtornos decorrentes da Sombra que não é resgatada do domínio do inconsciente se caracterizam não somente pela explosão irracional que foi reprimido, mas também por efeitos colaterais penosos, na forma de angústia, depressão e problemas de saúde física, efeitos esses que simplesmente refletem os danos de um conflito não resolvido entre o indivíduo e sua própria Sombra

- Aquilo que não nos deixa confortáveis e que nos irrita de forma frequente, está dentro de nós, na nossa Sombra e não fora de nós


 1.4 - O SELF E SUA RELAÇÃO COM O EGO

- O Ego funciona como o centro da consciência, controlando as lembranças, imagens e informações com suas cargas emocionais, permitindo, ou não, que esses conteúdos  permaneçam no campo consciente

- Tudo o que vier do mundo externo ou do inconsciente e for considerado importante para o Ego é absorvido e torna-se consciente, e o que não for considerado importante fica no inconsciente

A natureza do Ego busca controlar tudo o que, de alguma forma, possa interagir com o indivíduo, garantindo ao mesmo segurança e bem-estar, entretanto, ele deve andar passo a passo com o amadurecimento físico e psíquico

- As etapas e a evolução desse processo de descoberta e amadurecimento são diretrizes que fazem parte da essência do Espírito humano desde sua remota origem, e habitam em forma latente no mais íntimo de cada indivíduo como uma programação evolutiva, uma semente, denominada por Jung de Self

- As ocorrências da vida estão sempre coordenadas pelo Self, objetivando dar ensejo a que se realize a plenitude do ser humano a cada encarnação, a cada experiência frustrante e a cada vislumbre de possibilidades maus amplas e nobres de construir a vida

1.5 - A PERCEPÇÃO PRÁTICA DO SELF

- O Princípio Inteligente, através do Fluido Universal e do Princípio Vital que dele deriva, rege nosso corpo, fazendo com que nosso coração pulse no ritmo adequado, sem nos darmos conta de que toda essa maquinaria fantástica está em pleno funcionamento
- Damo-nos conta, que essa harmonia inteligente que rege a estrela Sol, o planeta Terra, a Água, minerais, enfim, todo o cosmo

1.6 - A INDIVIDUAÇÃO E O ESTADO NUMINOSO
- Jung denomina a aproximação gradual entre o Ego e o Self de individuação
- Essa fragmentação causada pelo conflito entre Ego e Self vai diminuindo através da integração entre as partes

- Sem o imediatismo do Ego imaturo, o indivíduo experimenta sua totalidade, e gradualmente desaparecem os sofrimentos e desabrocha a paz

- A individuação é um processo de formação do Ser Individual e, é uma necessidade natural, e uma coibição dela traria prejuízos para a atividade vital do indivíduo
- A individuação está sempre em maior ou menor oposição à norma coletiva, pois é separação e diferenciação do geral e formação do peculiar

- Quanto mais nos identificamos com nossa máscara, mais identificados com o papel social estaremos e mais massificados seremos, distanciando-nos do nosso verdadeiro eu, da nossa individualidade

- O indivíduo, com a consciência e discernimento ampliados, ficará predisposto à intuição, aos flashes dos insights, campos admiráveis extrafísicos da percepção que leva à individuação
- Os flashes e insights acima referenciados por Joanna de Ângelis são momentos extraordinários que nos põem em contato tangível com uma realidade que transcende de forma absoluta a normalidade do cotidiano, podendo-se dizer que se trata de um estado de consciência alterado, em profundidade, um chamamento interno a algo superior, a uma plenitude

- A percepção dessa plenitude, pode ser provocada através de inúmeras práticas de meditação conhecidas ou pela reflexão consciente e profunda acerca de nós mesmos, entretanto, os desafios, as dores e os sofrimentos da vida  levam o Ego a frustrações constantes e pungentes, surgindo daí a ânsia de uma busca mais elevada, criando a predisposição aos insights do Self

- Muitos estudiosos da Alma Humana, incluindo Jung e nossa querida Joanna de Ângelis, denominam esses estados alterados de consciência de estado numinoso


CAPÍTULO 02 - FRAGMENTAÇÕES MORAIS

2.1 - O PREDOMÍNIO DA SOMBRA

- A fuga espetacular sempre ocorre quando tentamos contornar o conflito entre o Ego e o Self, usando uma máscara que nos esconda não só dos olhares de reprovação dos que nos circundam, que implicaria obstáculo a nossa integração social, mas também dos assédios sutis, ainda que incômodos, dos valores elevados do Espírito que se manifesta com insistência
- Não há máscara sem Sombra

- É verdade que a máscara, de início relativamente cômoda, cumpre seu papel de viabilizar o convívio com os empecilhos  decorrentes da luta entre nossas tendências egoicas e o chamamento do Self e, por isso, eliminá-la é uma opção descartada por ser trabalhosa

2.2 - O DESPERTAR DO SELF
- Mantermos olhos e ouvidos atentos aos chamamentos do Self é uma atitude que implica reflexão e estudo com relação às propostas de vida baseadas em objetivos e sentimentos edificantes, coerência e determinação na troca do prazer imediato e da satisfação do Ego primitivo pela aspiração a uma plenitude que, embora residindo no futuro de forma mais ampla, começa no presente

2.3 - A INTEGRAÇÃO MORAL
- Diz Joanna de Ângelis : “ A insatisfação sempre enche a taça repleta de prazer com o azedume e o tédio, levando o indivíduo a sorver dela mais e mais, esvaziando-se interiormente por falta de valores edificantes e legítimos”

- Muitos de nós estamos na ilusão egoica, buscando freneticamente atingir um status, que os bens materiais e a conquista de poder temporal asseguram

- De certa modo, aquele que já alcançou a riqueza material, que o ego insensato denomina de sucesso, e que se está a embriagar na taça repleta de prazer, pode estar mais próximo de sentir-se impelido à busca dos valores elevados do Espírito, uma vez que provará, cedo ou tarde, o intragável sabor do azedume e do tédio

- Quem quer que se encontre mergulhado no marasmo depressivo de uma imobilidade estéril, deixando-se enganar pela fraude sedutora de um bem-estar material, pode mudar seu interior, conscientizando-se da possibilidade real de empreender a aventura mais plena e feliz que o Espírito humano pode aspirar : a sua individuação em Deus

- Há uma certa ingenuidade no Ego que não foi desperto para os verdadeiros valores da vida, pois ao se sentir infantilmente convencido de que é esperto e inteligente, afunda-se cada vez mais nu tolo faz de conta, do qual não se apercebe

- São comuns os relatos médicos, que mencionam pacientes terminais, que se dão conta das construções do Ego em ruínas, com a inevitável sensação de tempo desperdiçado em ações, cujas finalidades eram ilusórias e vãs

- Ao contrário, aquele que procurou edificar sobre a rocha, através do cultivo do amor, da verdade e da solidariedade e demais valores transcendentes, experimentará maior tranquilidade com relação ao que está por vir, seja ainda na esfera carnal, seja no mundo espiritual e em futuras encarnações

- A integração moral, que consiste no alinhamento dos atos e predisposições humanas com a natureza elevada do Espírito, integrado no Self e com o Ego igualmente integrado e pacificado





CAPÍTULO 03  - ENCONTRO E AUTOENCONTRO
3.1 - RETORNO AO PAÍS LONGÍNQUO
- Enfrentando os embates e tribulações da jornada terrestre que nos conheceremos e cresceremos em Espírito, todavia as características primitivas do EGO não se modificam num piscar de olhos, pois na verdade, incontestáveis são as viagens de ida e volta que empreendemos dentro de cada reencarnação

- Conhecemos irmãos perturbados que se debatem por anos a fio em pensamentos e atitudes insanos e autodestrutivos, que acabam por reprimir o despertar de talentos preciosos
- Caso o desespero ocorra, é preciso compreender que sempre existe a animadora perspectiva de uma viagem de volta ao estado de harmonia

- A falta de discernimento é consequência do conflito entre o Ego e o Self e da decorrente sombra provocada por esse embate. Em outras palavras, os apelos do Ego desarmonizados parecem embaçar a percepção de valores transcendentes, fazendo com que permaneçamos na tristeza e no desânimo, incapazes de refletir

- O Self, entretanto, como pai amoroso nunca deixa de trazer à psique uma luz, uma chamada que traga a alma o vislumbre de que há a possibilidade do uso da razão mesmo em meio a tantas tribulações

- Essa atitude interior pressupõe esforço persistente, e para retornar ao lar paterno é necessário levantar-se e percorrer com determinação o caminho de volta que, certamente, incluirá desafios e percalços

- Isso incluir um trabalho de reflexão sobre nossas motivações mais íntimas, sobre nossas inquietações e suas respectivas origens. Essa investigação interna leva-nos, obrigatoriamente, a reconsiderar objetivos de vida, relacionamentos afetivos e familiares, aflições que nos corroem a ânimo, dúvidas incômodas e questionamentos quanto ao pós-túmulo, coisas que, não raro, varremos para baixo do tapete


3.2 - A ALEGRIA DA VOLTA PARA CASA
- A alegria natural de quem busca o encontro com os valores espirituais é muitas vezes embotada por condicionamentos inconscientes, conforme nos esclarece Joanna de Ângelis : “As criaturas tendem a manter posturas de tristezas, melancolias prolongadas, conflitos em torno do existir”... “A Sombra densa dos atavismos reencarnacionistas nelas permanece perturbadora, patológica, anulando a alegria natural da experiência de viver e de crescer, sendo cultivada em forma de transtorno masoquista e afligente

- A Sombra densa dos atavismos rencarnacionistas, referida pela mentora, compreende a repulsa e a culpa, que trazemos em nosso inconsciente, em decorrência dos estágios evolutivos, que experimentamos em encarnações passadas

- Para diminuir o sentimento de culpa, próprio da Sombra densa, surge no indivíduo o desejo consciente ou inconsciente de ser punido, aplacando assim a rejeição do grupo social a que pertence, ou então, para redimir-se de seus pecados, como se o sofrimento fosse a moeda de resgate das próprias culpas

- Acrescente-se, a isso, a crença de que será admirado e amado por seus sofrimentos, uma vez que o sentimento de solidariedade para com os que sofrem é traço característico da alma humana. Dessa forma, doenças, males físicos e sofrimentos morais, tais como a injustiça, a ingratidão e o desprezo passam a ser inconscientemente desejados, buscados e fomentados

- Libertemo-nos da Sombra implica, portanto, alcançarmos a alegria de viver. Para que tal aconteça, é imprescindível que não mais nos identifiquemos com ela, que compreendamos que ela existe em nós, mas não é o que somos

- Ao compreendermos que a Sombra é algo externo à nossa essência, estaremos prontos para dar os primeiros e decisivos passos ao encontro da felicidade perene


4 - EXPERIÊNCIAS DE ILUMINAÇÃO

4.1 - A EXISTÊNCIA TERRENA

- A existência terrena tem uma finalidade primordial e impostergável, que é a unificação do Ego com o inconsciente, onde se encontram adormecidos todos os valores jamais experimentados a capazes de produzir a individuação

- Unificar o Ego com o inconsciente equivale a tornar claras todas as estruturas psíquicas inconscientes que, não estando unificadas ao Ego, manifestam-se de forma velada, durante toda nossa vida, sendo fonte de conflitos intermináveis, significando, em outras palavras, conquistar a paz e a alegria de uma vida sem os tormentos da Sombra densa e, acima de tudo, atingir a individuação, na percepção e vivência do Self

- Saber-se em processo de crescimento, não somente pela aquisição de conhecimentos, mas também pela incorporação dos mesmos à vida cotidiana, fará com que nos tornemos pessoas mais felizes e serenas

- A situação inversa é, também, verdadeira, pois seremos vítimas de sentimento de frustração e tristeza, toda vez que nos negarmos ao convite do Self a novos desafios


4.2 - PERCEBER O SI-MESMO

- A Persona (ou Máscara) pode inibir características próprias de nosso temperamento, tendências e habilidades, ainda que de forma circunstancial

- Tal persona, circunstancial e consciente, e a Sombra que dela decorre, raramente necessitarão de maiores cuidados

- Em 1945 Jung deu uma definição muito simples de Sombra: “Aquilo que a pessoa não tem o desejo de ser”

- Outro esclarecimento do mestre Suiço: “Todo mundo carrega uma Sombra, e quanto menos ela está incorporada na vida consciente do  indivíduo, mais negra e densa ela é”... “Se a Sombra é reprimida e isolada da consciência, jamais é corrigida, e pode irromper, subitamente, em um momento de inconsciência, formando um obstáculo inconsciente, impedindo nossos mais bem-intencionados propósitos

- A tolerância, que deve ser desenvolvida e cultivada para possibilitar relacionamentos e convívios saudáveis está diretamente relacionada com a conscientização da Sombra e a consequente harmonização da Persona

- É difícil tolerar pessoas que apresentem características contidas na nossa própria Sombra inconsciente, pois ao perceber no outro o que eu não desejo ser, e inconscientemente estou sendo, imediatamente sinto-me incomodado

- Muitas preferências e traços da individualidade que poderiam ferir suscetibilidades e dificultar o convívio podem ser voluntariamente inibidos em nome da tolerância. Trata-se aqui, não de uma repressão, mas sim de uma opção livre e consciente

- Sabemos que o gesto de abrir mão, em determinados momentos, de características de nossa personalidade, auxilia a manter a  harmonia em nosso convívio, sobretudo, com aqueles que nos são mais próximos. O problema surge quando, ao invés de uma renúncia consciente, ocorre o desprezo dos próprios conteúdos e preferências, pelo medo da rejeição. O indivíduo passa a adaptar-se a um estilo de vida e a um padrão comportamental visando, acima de tudo, a aprovação alheia, o que é extremamente desconfortável e desgastante, caracterizando então, a Sombra negra e densa mencionada por Jung


4.3 - O SAIR DE  SI - MESMO

- Quando a Sombra não está harmonizada, o indivíduo tende a desenvolver uma afinidade intrínseca com comportamentos padronizados, instalando-se nele uma verdadeira aversão à manifestação da diversidade natural das individualidades humanas, passando a projetar no comportamento do outro, os próprios conflitos

- Até mesmo demonstrações discretas de afeto e alegria, podem provocar repúdio e mal-estar numa alma em conflito, fechada em padrões rígidos

- A menor referência verbal a comportamentos não padrão, tidos como inadequados, torna-se motivo de reprovação, dando surgimento a assuntos proibidos e tabus, instalando-se, dessa forma na psique em conflito, a cruel tendência de rotular comportamentos e indivíduos, lesando a compreensão, a tolerância e a solidariedade

- Joanna de Ângelis nos diz sobre a integração da Máscara com a Sombra : “Para que o Si-mesmo possa manifestar-se com segurança torna-se indispensável a integração da Persona com a Sombra”... “Trata-se de uma aceitação consciente do Si-mesmo, compreendendo o seu lado Sombra e as sua dificuldades de lidar com ele, devendo-se considerar as ocorrências negativas e perturbadoras como naturais


CAPÍTULO 05 - A CRIANÇA FERIDA E AS PERDAS

- Nos diz Joanna de ângelis: “Todos os indivíduos conduzem, no inconsciente individual, a sua criança ferida e magoada, que lhe dificulta a marcha de segurança na busca de paz interior, da saúde e da vitória sobre as dificuldades”... “Essa Criança ferida é ser humano perdido no deserto, ou na casa que necessita ser varrida, a fim de retirar as camadas de ressentimentos que impedem a claridade da razão, do discernimento”... “O número de transtornados psicologicamente é muito grande, em face da preservação da criança ferida em cada um"
- O comportamento infantil de focar a atenção naquilo que não temos, de nos lamuriarmos sem cessar pelas perdas sofridas, rouba-nos o discernimento e incapacita-nos para a ação positiva

- Os transtornos causados pela preservação da criança ferida dentro de nós prolongam-se inconscientemente, apoiados na preguiça medrosa de um enfrentamento dos desafios que são, na realidade, oportunidades para evoluirmos

- É comum que culpemos outras pessoas ou transfiramos para elas responsabilidades que nos cabem, acusando-as de nos terem roubado a paz, à semelhança da criança birrenta, que se recusa a tomar o remédio amargo que a curaria, uma vez que permanecendo doente poderá fugir ao trabalho e às preocupações do cotidiano, deixando que outros assumam os deveres que são seus, numa dependência doentia

- Tal estado de coisas é desencadeado pelo Ego que se recusa infantilmente a enfrentar a Sombra, à qual se habituou



5.1 - CAIR EM SI

- Há um momento em que, graças à percepção amarga da perda, partimos finalmente com determinação em busca da ovelha perdida, que somos nós mesmos

- O sofrimento humano é, portanto, mera miopia espiritual e moral, consequência da falta de determinação e atitude, criação de nossa fraqueza e não de Deus

- Muitas almas, ao caírem em si, ao invés de pedirem a ajuda do Pai, através da prece sincera, para assim dilatarem o próprio campo vibratório da mente, acabam por resvalar para o desespero, a exemplo de Judas, que no despertar para a realidade do erro cometido, deixa-se oprimir pela culpa, entregando-se à depressão profunda, que culmina com o suicídio

- Nos ensina Joanna de Ângelis que o silêncio externo ajuda muito e o silencia interno é essencial. Estar regularmente a sós consigo mesmo por alguns minutos, ao menos uma vez por dia, é para a saúde da alma, da psique e do corpo tão essencial quanto a chuva para a relva

- Da mesma forma, para que a tristeza não se instale em caráter prolongado, é preciso que estejamos atento de que, muitas das vezes, concentramo-nos em recuperar um valor que se perdeu e reunimos esforços para fazê-lo, mas nos esquecemos de muitos outros valores que não estão perdidos, da mesma forma que é importante mantermo-nos  vigilantes na preservação do conjunto dos valores que nos cabe guardar

- Quantos de nós, buscamos freneticamente posições sociais de destaque, inseridas num padrão externo de sucesso, que valoriza somente o poder aquisitivo e a sofisticação? Nessa ânsia cega, perdem-se valores que, por serem sistematicamente preteridos, deterioram-se, muitas vezes, de maneira irreversível

- O êxito profissional e o bem-estar material devem, sem dúvida, ser buscados com equilíbrio, porém, sua supervalorização é resultado de uma distorção flagrante


5.2 - A CORAGEM DE PROSSEGUIR EM QUALQUER CIRCUNSTÂNCIA

- Doenças, revezes, decepções, desafetos, catástrofes e quaisquer tragédias recebem da doutrina Espírita uma abordagem nova e revolucionária, não só no que diz respeito à compreensão  das mesmas mas também, e principalmente, no que diz respeito à revelação do poder incomensurável que nós, aprendizes, temos sobre as mesmas sem sabê-lo

- As condições para acessarmos esse entendimento e poder, dormentes no Self e ocultos pelo Ego imediatista, compreendem primeiramente a coragem e determinação de viajar ao íntimo e trazer informações ao entendimento

- Qualquer dor de cabeça sem maiores consequências, até transtornos orgânicos graves e distúrbios psicológicos debilitantes, estão intimamente conectados com as dimensões ,oral e espiritual do indivíduo

- Através do amor, que transcende o imediatismo utilitário do Ego, abrem-se no mesmo as brechas pelas quais a Inteligência Suprema penetra na consciência humana levando-a ao estado numinoso

- Através do amor o Ego rende-se à evidência de realidades concretas e palpáveis, provenientes dos arquivos inconscientes, que atingem a consciência. Assim, o amor cumpre seu papel de ligação entre o céu e a Terra, trazendo à psique humana fagulhas divinas compreendidas e abraçadas pelo Ego

- O sair de si voltando-se para outro em atitudes de amor compõe a vocação evolutiva humana, porém a maioria das culturas ocidentais modernas condicionou os indivíduos a valorizar os prazeres da sensação em detrimento das emoções que brotam da experiência do amor em todas as suas expressões


5.3 - SER-SE INTEGRALMENTE

- O sentido de posse material atingiu a sociedade moderna, principalmente na ocidental, uma importância exacerbada e até irracional, posto que o próprio valor de uso desses bens fica diminuído em função do valor exacerbado que se atribui a posse em si

- Aqueles que conseguem amealhar um volume muito grande de bens, terminam por não conseguir usufruir senão uma parte ínfima dos benefícios que tamanho patrimônio pode proporcionar, utilizando-os tão somente para que rendam recursos financeiros, visando aumentar ainda mais suas posses, num círculo vicioso insano e escravizante

- Possuir e gozar prazeres sensoriais passam a constituir valores supremos diante dos quais tudo se torna secundário e supérfluo

- Aquele que prioriza ansiosamente os valores do prazer sensorial, restringe o acesso aos valores permanentes e ironicamente reduz a própria intensidade dos prazeres que, quando estão alinhados com as aspirações superiores, manifestam-se com mais lucidez e profundidade por estarem harmonizados integralmente com a psique


CAPÍTULO 06 - O SER HUMANO EM CRISE EXISTENCIAL

- A fase de pós-modernidade que se torna cada vez mais perturbadora nas mentes e nos comportamentos, responde pela perda emocional dos valores de alto porte, que vêm reduzindo o ser humano à condição robótica

- O sofrimento em escala global provocaram na psique de muitos uma dessensibilização que é, antes de tudo, uma reação de defesa ou de adaptação à uma realidade externa chocante

- A sensação de impotência diante da banalização da vida e dos valores solidários  inibem quaisquer outros sentimentos mais elevados, que pareciam inúteis e sem sentido

- Em contrapartida, hábitos distanciados de relações afetivas verdadeiras e nobres, passaram a ser acolhidos pela maioria

- A evolução da ciência e da tecnologia facilitou sobremaneira o distanciamento, maquiando-o com a comunicação rápida e instantânea, porém superficial, e com a sedução de um mídia corrompida e corrompedora

- Por não serem valorizados os laços e comprometimentos afetivos, a sexualidade ficou também desvinculada dos mesmos e, por isso, banalizada como mera fonte de prazer sensorial e vaidade exacerbada, desprezando-se quaisquer consequência e desdobramentos dessa postura

- Contribuindo de maneira habilmente proposital, a mídia cria ídolos e devora-os, a cada instante, exaltando o crime e os criminosos que se lhe tornam manchete contínua, exaurindo os clientes, especialmente através da televisão, nas repetições exorbitantes das cenas de horror, nos julgamentos arbitrários daqueles aos quais atribui a responsabilidade pela desgraça, no estímulo à justiça pelas própria mãos, encorajando psicopatas adormecidos a se tornarem famosos pela utilização dos hórridos (horrorosos) espetáculos exibidos

- O despudor agressivo que arrebata as multidões, especialmente acompanhando as cenas de deboche nos aplaudidos programas de degradação humana, para a conquista da fama pela imoralidade e do dinheiro pela perda da dignidade, favorece o surgimento de múmias morais, que são os seres destituídos de emoção e de sensibilidade que a tudo se submetem para atingir as metas estimuladas pelo mercado de sexo e da drogadição

- A propalada expressão “Vazio  existencial” procede desse distanciamento, ainda que temporário, de valores elevados, anteriormente desenvolvidos e conquistados pela alma humana, e da referida dessensibilização emocional / afetiva


6.1 - O SER HUMANO PLENO

- Por evitar o exame interno e não dar ouvidos aos chamamentos que brotam sôfregos e reprimidos do fundo d’alma, o indivíduo constrói sua existência terrena calcada somente no que é transitório, instável, circunstancial e externo, sobre a areia das vicissitudes movediças do mundo e não sobre a rocha firme e consistente dos valores eternos do SELF

- As bases psicológicas da sociedade foram construídas a partir de um padrão mentiroso que prega a satisfação das demandas do EGO, centrada no prazer sensorial  e no poder, enquanto garantia do domínio sobre as circunstâncias externas, sendo, portanto, uma felicidade falsa, proveniente do que é externo, material e instável como areia

- A legítima psicoterapia objetiva conduzir o indivíduo ao redescobrimento da sua realidade, da sua origem espiritual, da finalidade existencial, do seu futuro imortal, que se lhe transformam em alicerces de segurança para as lutas contínuas, evitando a projeção dos seus conflitos nos outros, assumindo a culpa e libertando-a do inconsciente em que jaz produzindo sombra e pesar

- Sob o ponto de vista da psicologia analítica de Jung, o que ocorre ao se construir sobre a areia, é que o EGO e a consciência da qual ele é o centro, por questões práticas de adaptação ao meio externo, tende inicialmente a manter-se distanciado do SELF, embora um isolamento completo entre os mesmos seja impossível e uma comunicação mínima sempre é mantida pelo SELF

- Esse distanciamento, entretanto, inibe a percepção subjetiva da realidade divina e transcendental que o SELF proporciona, acarretando numa drástica redução no discernimento e cedendo espaço à dominação da SOMBRA que exerce sua influência inconsciente sobre todos os comportamentos

- Entretanto, a própria frustração da constatação prática, por tentativa e erro, da precariedade e fragilidade das construções sobre as areias do EGO que desabam antes mesmo de serem concluídas, levam a psique a considerar a possibilidade de se levar mais a sério os chamamentos do SELF, percebendo-se já nas primeiras tentativas, a solidez e a plenitude perene do mesmo
- Toda religião, no seu significado profundo, objetiva religar a criatura ao se Criador, o que representaria estabelecer o eixo EGO-SELF, o ser aparente com o ser real, proporcionando-lhe condições de saúde e paz

- Quão superficial e ilusório é o EGO enquanto essência do significado da vida, e quão real e sólido é o SELF. Estabelecer o discernimento entre um e outro e integrá-los é o sentido religioso por excelência e o passo inicial para chegar a isso é, invariavelmente, perceber a transitoriedade do EGO que tem por característica própria da sua primitividade, a capacidade de fingir ser o objetivo essencial da vida

- Somente após intermináveis tropeços dolorosos é que o EGO vai perdendo sua capacidade de dissimular  



CAPÍTULO 7 - A POSSÍVEL SAÚDE INTEGRAL

7.1 - A PARÁBOLA DOS TALENTOS

- O EGO que a tudo busca controlar, quando num estágio pouco evoluído age para deixar os talentos acomodados a esse domínio rasteiro e primitivo, e o faz como sempre de forma sorrateira e camuflada, sob a aparência de quem almeja prazer e bem-estar inofensivos

- É muito mais fácil, e menos trabalhoso, enterrar os talentos recebidos do que trabalhar no desdobramento e desenvolvimento dos mesmos, o que certamente envolve riscos e iniciativas
- Todos os valores que sejam sepultados no solo da indiferença e da falsa justificativa, se transformam em sofrimento interior, porque a culpa que se apresenta no momento da prestação de contas, leva-o às lágrimas e às lamentações

- Os sinais do desprezo aos talentos recebidos grassam(difundem) sobre todo o planeta, o próprio equilíbrio orgânico e psicológico, que no seu sentido mais amplo garante o talento da saúde é assustadoramente malbaratada através de práticas que supostamente buscam o bem-estar, mas na realidade estão causando a enfermidade, o sofrimento desnecessário e a limitação física

- É lamentável a facilidade com que se trocam a vitalidade física e o verdadeiro bem-estar, por prazeres efêmeros como o Êxtase torpe das drogas ou o prazer falso e estúpido do beber em excesso ou de comer compulsivamente alimentos que por sua composição desequilibrada ou por sua quantidade desmedida, matam ou adoecem ao invés de nutrir

- Por outro lado o culto imaturo e a busca obsessiva de medidas corporais tidas como belas pelo padrão vigente movimentam energias, talentos e recursos financeiros inimagináveis, preterindo em decorrência disso, valores consistentes de realização e felicidade

- Busca-se a aparência fútil que inexoravelmente degenera com o tempo e despreza-se a essência que é perene, levando suas vítimas a um caminho no mínimo ingênuo, que lamentavelmente leva à frustração e ao distúrbio debilitante

- o dom da sexualidade e seu papel dignificante como linguagem sublime do amor, como fonte abundante de prazeres sadios e terapêuticos, e ainda como veículo sagrado de reprodução biológica a serviço dos programas reencarnatórios são vulgarizados e violentados ao extremo não somente como meio de prazeres promíscuos, descomprometidos e irresponsáveis, mas, pior ainda, banalizado como instrumento de lucro, em campanhas publicitárias de grandes corporações capitalista ou como apelos grotescos para garantir índice satisfatórios de audiência na mídia

- O discernimento na qualidade de talento foi recebido e desenvolvido, contudo carece de cultivo e exercício constante para permanecer vivo e atuante. O descuido do mesmo, enterrando-0, deixa-nos estagnados em níveis muito aquém daquele que naturalmente nos cabe


7.2 - A CONQUISTA DO SI-MESMO

- Recursos de retomada do caminho sempre estarão ao nosso alcance mediante esforços e empreitadas, muitas vezes árduas

- Qualquer talento atrofiado pelo desuso deverá ser recuperado mediante exercícios tão extenuantes e prolongados quanto foi o tempo em que esteve abandonado no cárcere da inconsciência, o que, se por um lado é trabalho árduo, por outro corresponde, em última instância, à conquista do Si-mesmo

- Conquistar o Si-mesmo, significa estar na posse plena de todos os talentos que por direito natural de criaturas divinas nos pertencem desde a criação, embora parte deles permanecesse adormecida por conta do estado primitivo em que nos encontrávamos, ou enterrada por conta da nossa preguiça

- Assim como as criaturas vegetais possuem talentos peculiares que as caracterizam e as mantêm, como a capacidade da fotossíntese, as criaturas humanas para que possam manter suas características , carecem da posse dos talentos próprios da espécie

- Entretanto, por não ter a posse plena desses talentos, ou por não estarem cada um dos mesmos em seu estado de plena atividade, o ser humano padece de disfunções significativas, o que equivale a adoecer, psíquica ou biologicamente, ou até mesmo desencarnar

- A enfermidade pode ser vista, portanto, como um alerta benfazejo(generoso) em prol do ajuste harmonioso entre o programa reencarnatório e a posse dos talentos necessários ao desempenho satisfatório do mesmo

- Sendo o Si-mesmo a somatória de todos os talentos concedidos pelo universo à criatura humana, em plena posse e uso, compreende-se que o mesmo é a fonte da vida do corpo em todas as suas expressões, nele residindo os dínamos geradores de todos os recursos para a existência humana, e, quando liberto das injunções do processo material na Terra, ei-lo que, ideal e numinoso, avança  na direção da plenitude

- E sendo os talentos, por definição, valores a serem desenvolvidos com o concurso da vontade e dos esforços individuais, compreende-se também a responsabilidade que recai sobre cada um de nós que os recebemos

- É compreensível que haja uma aceitação normal do estado em que muitos se encontram, acomodados às circunstâncias, sem aspirações relevantes

- Nesse nível de consciência de sono, as necessidades atêm-se maia àquelas orgânicas, quais sejam alimentar-se, dormir, exercer o sexo, num círculo de automatismos primários

- O SELF desenvolve-se  mediante os esforços existenciais que lhe facultam a despertar dos tesouros adormecidos, produzindo a imaginação, a ambição de crescimento, o desejo de conquistas novas

- Quem se basta com o habitual permanece em hibernação de consciência, aguardando que fenômenos-dor o sacudam, provocando-lhe a busca da renovação e a disposição para mudanças psicológicas, para novas aspirações que lhe constituirão objetivos a trabalhar
- A hibernação da consciência é a moléstia de maior poder degenerativo que pode atingir a alma humana, pois atinge justamente na fonte da vida psíquica, emocional e física,  anulando-lhe a razão, o discernimento e por consequência o senso moral e o anseio pela busca de horizontes mais elevados

- Por todas essas contingências, a hibernação da consciência tende a perpetuar-se, pois somente na própria consciência, que ora dorme, é possível surgir os primeiros ímpetos de reação

- Por outro lado a embriaguez do prazer e do possuir embaçam a percepção, tornando o possuidor possuído pela posse possuidora, e, até certo ponto, anestesiando os fenômenos-dor que cedo ou tarde, finalmente, sacudirão a consciência



7.3 - BINÔMIO SAÚDE-DOENÇA

- Uma disfunção fisiológica em um órgão do corpo físico não surge espontaneamente, por força do acaso, naquele órgão

- Houve uma ou várias causas articuladas que manifestaram-se, com maior intensidade, num ponto específico do corpo físico, e a causa original invariavelmente situa-se no comportamento moral

- Mesmo quando há, no desequilíbrio fisiológica ou psíquico, uma causa claramente genética, a mesma foi intencionalmente assumida quando da programação reencarnatória, pois deficiências hereditárias não poderiam jamais ser frutos do acaso que passam despercebidos pela Providência Divina

- Há portanto, uma causa moral que demandou a decisão de uma reencarnação com determinadas limitações físicas, psíquicas ou socioeconômicas que objetivam correções e aprendizados específicos, decorrentes dos desvios morais ocorridos em encarnações anteriores

- Mesmo moléstias contagiosas, adquiridas durante o período encarnado, podem ser consequência de um sistema imunológico deficiente, previamente programado no plano espiritual, em consenso com o próprio espírito prestes a reencarnar

- Em resumo, a manifestação da saúde, considerada do seu ponto de vista mais profundo ocorre de acordo com premissas e condições a seguir descritas por Joanna de Ângelis: “ A tríade que constitui a realidade do ser, mental, emocional e fisiológica, é regida pelo SELF que, dominado pelo EGO sob os impulsos do primitivismo, mantendo o desequilíbrio de qualquer natureza abre espaço a disfunções normais, como ocorre com qualquer veículo mal utilizado ou cuja manutenção se faça precária

- Portanto, a inserção do indivíduo numa reencarnação, pressupõe uma posição socioeconômica pré-definida, numa família conturbada ou não, numa situação de pobreza extrema ou de abundância, compondo o cenário específica que cabe àquele espírito no seu processo evolutivo

- Essa visão reencarnatória do processo evolutivo explica e dá sentido às desigualdades sociais degradantes impostas por regimes políticos egoicos, às guerras e à violência que permeia o convívio social e a todas as aberrações e tribulações próprias da realidade terrestre

CAPÍTULO 8 - A BUSCA DO SIGNIFICA


8.1 - A EXPRESSÃO DO SELF NA ARTE

- Toda a expressão artística, desde os tempos primitivos da evolução humana, traz consigo, já nas pinturas rupestres(pinturas em rochas, cavernas), a ânsia incontida de desenvolver a consciência, de conhecer o universo que o cerca e de comunicar-se

- Quando,  a partir da idade moderna, a arte deixa de ser uma mera reprodução da beleza percebida na natureza para ser uma manifestação da liberdade e da criatividade do gênero humano, as impressões do inconsciente encontram uma via de expressão não somente da beleza indefinida e infinita do SELF, mas também dos conflitos internos deste com o EGO grotesco

- Abre-se assim uma possibilidade concreta de exteriorizarem-se conteúdos inconscientes e até mesmo conscientes, que vão muito além dos limites habituais da busca da sobrevivência segura e do prazer sensorial

- Assim entendida, a arte passa a ter um papel terapêutico e construtivo da evolução humana exortando o artista e o observador da obra ao enfrentamento com o inconsciente, como bem define Joanna de Ângelis : “Graças a essa aventura em direção ao interior, ao inconsciente, a arte se transformou em um fenômeno místico, quase religioso pelo seu significado libertador, sem qualquer vínculo com denominação, mas dirigido à imensidão do Cosmo e da vida”... 

“Costuma-se dizer que a maioria das pinturas da arte contemporânea, expressa angústia,  dor, sofrimento, discórdia, luta, o que, de certo modo, é verdade, porquanto, representa a visão da jornada longa da evolução e reflete a realidade existencial, muitas vezes disfarçada pela hipocrisia ou oculta pelos denominados multiplicadores de opinião


8.2 - O BEM E O MAL

- O Livro dos Espíritos aborda esse tema na questão 630 : “Como se distingue o bem do mal? O bem é tudo o que é conforme à lei de Deus; o mal, tudo o que lhe é contrário

- Na questão 909 do mesmo livro, percebe-se, de forma inquietante, a responsabilidade de cada alma na prática do bem : “O homem poderia sempre vencer suas más tendências pelos seus esforços? Sim, e algumas vezes, por fracos esforços. É a vontade que lhe falta


 8.3 - OS SOFRIMENTOS NO MUNDO

- A essência e o sentido último de todo sofrimento é educativa ou, em outras palavras, é proporcionar experiências de aprendizado no sentido moral, psíquico e Espiritual

- Todo aturdimento suportado, transforma-se em serenidade na proporção em que consegue despojar-se dos resquícios últimos de revolta, mágoa, medo e melancolia

- Quando se sabe encarar o sofrimento como uma necessidade de entendimento do Ego com todas as suas máscaras, o trágico e o desvalimento transformam-se em alicerce para a construção da realidade humana, no seu sentido divino e transcendente, porque o ser, em si mesmo, é indestrutível, é imortal

- A fé religiosa saudável, bem direcionada,  adquire e oferece significado à existência humana

- À medida que sejam adquiridas a consciência de si, a compreensão do significado existencial, o dever de superar a Sombra após aceita-la, o sofrimento cede lugar ao estágio de harmonia propiciadora de individuação

- A ação da vontade própria tem, em decorrência de leis naturais, poderes imensos na transformação e na regeneração física e psíquica

- A própria neurologia moderna identificou que a postura da vontade induz o organismo humano a produzir substâncias Neuropeptídios e neurocomunicadores) que refazem a saúde integral e tornam o indivíduo receptivo às forças regeneradoras provenientes do Universo


8.4 - A INDIVIDUAÇÃO

- Existem características profundas e verdadeiras de cada indivíduo que compreendem o  si-mesmo, ou seja, o que o mesmo tem de original, verdadeiro e autêntico, sem as contaminações do inconsciente coletivo e sem as manipulações distorcidas do Ego

- É nessa pureza que o Self, enquanto a expressão da Divindade interna no ser humano realiza-se e manifesta-se

- O cultivo dedicado de purificação do si-mesmo, desembaraçando-se de tudo que não o compõe, permite uma manifestação mais ampla do Self, e é ao resultado desse esforço contínuo que Jung denomina individuação

- Podemos dizer, portanto, que a individuação é o movimento voluntário e laborioso de colocar o si-mesmo, purificado e íntegro, à disposição do Self infinito

- Buscar a individuação é um movimento interno que requer também o desprendimento seguro dos ditames externos da sociedade

- Modismos e hábitos sociais distorcidos que ultrapassam o discernimento e o bom-senso, podem gerar as máscaras rígidas que descaracterizam a identidade legítima do indivíduo 

- Quando se opta com determinação por viver a honestidade, defronta-se imediatamente com as seguintes consequências : muitas máscaras tendem a cair ou harmonizarem-se conscientemente

- Máscaras são desnecessárias quando, honestamente e abertamente , se assume estar desempenhando, dentro das relações sociais, uma função útil e válida

- Os erros e limitações involuntários, por serem  honestamente assumidos não são sombra, mas imperfeições a serem corrigidos

- A coletividade humana ainda padece pela sonolência da maioria em relação ao autoenfrentamento e ao desertar do Self

- A harmonia dos indivíduos da sociedade, considerando-se todos os seus aspectos, aguarda esse despertar, e enquanto tal não ocorre prolifera-se a neurose moderna decorrente da  somatória de milhões de almas transformadas em busca de si mesmas

- Esse tipo de transtorno neurótico expressa-se em forma de ansiedade, de insatisfação, de frustração, de desconfiança e de solidão, asfixiando os mais belos ideais da humanidade intelectualizada, tecnologicamente rica e profundamente infeliz em seu sentimento pessoal

- Os efeitos imediatos são as depressões bipolares na área da afetividade, a síndrome do pânico, as fugas hediondas pelo suicídio, pelo homicídio, as opções tormentosas pela violência, pelo estrupo, pelo esdrúxulo  e primitivo no comportamento para chamar a atenção, em face do desprezo que as suas vítimas sentem por si mesmas

- Desse modo, a busca da individuação é também a maneira psicológica de encontrar-se o melhor meio para o bom relacionamento com o si-mesmo, com o outro, com a sociedade


CAPÍTULO 9 - BUSCA INTERIOR

- O inconsciente motiva a maior parte dos nossos atos e comportamentos, sem a interferência da consciência lúcida, o que equivale a dizer que desconhecemos a maior parte das verdadeiras motivações responsáveis pelas nossas decisões, escolhas e posturas e nisso reside, em grande parte, as causas dos nossos conflitos e sofrimentos

- Diz Joanna de Ângelis : “A busca interior não se pode deter na periferia da realidade física, mas penetrar no cerne do ser e das suas faculdades, ampliando o elenco de realizações com a visão do indivíduo indimensional  , o Self com os seus atributos divinos”

- É notável a frequência com que, nos procedimentos psicoterapêuticos de regressão da memória, lembranças perturbadoras de fatos ocorridos em vidas passadas ressurgem vigorosas e possibilitam ao terapeuta a oportunidade de, em conjunto com o paciente, diluir o objeto do desequilíbrio

- Tendências, sentimentos e aptidões, positivas ou negativas, na maior parte das vezes têm raízes em existências passadas

- A penetração no inconsciente, tornando conscientes suas manifestações significativas, possibilitando o cultivo das que forem construtivas e a diluição das que forem nefastas, é portanto necessária à conquista do equilíbrio e da saúde integral

- Se os processos terapêuticos dirigidos por especialista constituem caminhos de êxito, há também, ao alcance de todos, a possibilidade de esforços pessoais como a reflexão e o franco autoenfrentamento  com tudo que evoca perturbação assim como a prece dirigida à espiritualidade superior, as leituras esclarecedores inspiradas por essa espiritualidade, os exercícios de meditação, e todos os recursos sublimes que inspirem paz, harmonia e bem-estar, tipicamente provenientes do Self, pois enquanto o inconsciente permaneça ignorado pelo Ego, que se atribui a capacidade de impor-se ao Self, na tormentosa ambição do poder e do prazer, serão liberadas impressões destrutivas


9.1 - FÉ E RELIGIÃO

- Praticamente, todas as civilizações de todas as épocas guardam na sua cultura a crença em Deus, independente do nome que se Lhe dê ou a forma como se O compreende, e a psicologia analítica identificou essa crença natural como a expressão do Self na existência humana

- Joanna de Ângelis, entretanto, distingui essa “religião natural” da religião que foi aprendida, esclarecendo que nessa última interferem fatores educacionais, familiares e sociais que acrescentam à mesma, desde a infância, alegorias e acessórios frequentemente carregados de ameaças, punições e terror, porém, à medida que a razão e o discernimento substituem a ignorância e a ingenuidade, os conflitos que surgem também entram em confronto com a conduta religiosa, especialmente se é castradora, imposta, ou se tem o caráter policialesco de vigiar todos os passos com ameaças de punição

- Vultos de renome no meio científico e acadêmico mundial, contemporâneos de Kardec, já houvessem atestado e comprovado, dentro do melhor rigor da metodologia científica, a existência da alma e da sua comunicação com os vivos, entre eles : Willian Crookes(1832-1919), Camille Flammarion (1842-1925), Charles Robert Richet (1850-1935) e Leon Denis (1846-1927) e Ernesto Bozzano (1862-1943)

- A maioria dos profissionais da saúde, mais do que nunca, consideram imprescindíveis os pressupostos do Espírito e da fé, na cura e na manutenção da qualidade de vida dos pacientes, pois pela observação empírica é sabido que quando se crê, todo o organismo atende aos impulsos da psique e responde de maneira eficaz, produzindo recursos propiciatórios à sua realização


9.2 - PENSAMENTO E AÇÃO

- Joanna de Ângelis ressalta de maneira sucinta o papel do pensamento na trajetória evolutiva do espírito humano : “Através do pensamento cada ser humano eleva o seu estágio de evolução, caracterizando-se pela nobreza das ideias que formula ou pela vulgaridade em que se compraz”

- Quem pensa é o Espírito e não o aparelho físico que serve simplesmente de veículo necessário, nobre e adequado ao  Espírito, durante a enriquecedora experiência reencarnatória

- Como emanação do Espírito, o pensamento é o instrumento hábil para o estabelecimento da razão, do discernimento, da consciência que se desenvolve através de níveis específicos até fundir-se na identificação cósmica, conforme sucede com o próprio pensamento

- Embora o pensamento surja por ampliação e evolução do instinto, ambos coexistem entre si, ou seja, o instinto não fica suspenso ou inerte por força do desenvolvimento do pensamento

- Assim, o instinto que permanece, mesmo no homem mais evoluído, é também instrumento valioso da alma humana, desde que utilizada de forma harmônica com a razão, o que equivale a interpretar e dirigir os apelos instintivos com o crivo do discernimento, o que constitui exercício de evolução no seu sentido mais amplo e sublime

- O instinto, harmonizado com o pensamento, pode indicar-nos aspectos que estariam fora do alcance imediato do raciocínio lógico,  levando-nos a ações e decisões acertadas

- Formações fluídicas, forças ideoplásticas, formas-pensamento são expressões que fixam-se na capacidade, própria do pensamento, de interferir nas realidades materiais/físicas e psíquicas do próprio indivíduo e do ambiente que o cerca

- Essa interferência pode manifestar-se, por exemplo, como cura e refazimento físico e psíquico, próprio ou de terceiros, como transmissão de eflúvios balsâmicos tranquilizantes e reanimadores para uma alma debilitada da matéria bruta, própria da crosta terrestre, ou da matéria sutil, comum no plano espiritual, de acordo com objetivos específicos

- A displicência e a invigilância no pensar pode induzir a descaminhos. Um bom exemplo desse perigo é o alerta de Jesus : “Eu, porém, vos digo que todo aquele que olhar para uma mulher para a cobiçar, já em seu coração cometeu adultério com ela

- A natureza imediatista da libido,  aliada ao pensamento desregrado e sem disciplina, antes mesmo de desdobrar-se em ato físico, e mesmo que tal não aconteça, desencadeará forças fluídicas, invisíveis ao encarnado que a emitiu, capazes de provocar os efeitos

- Irritação psíquica, depressão, distúrbios orgânicos e degenerações diversas são consequências diretas desse tipo de influência tanto para o emissor como para aqueles que mentalmente estiverem receptivos a tais vibrações


CAPÍTULO 10 - A VIDA E A MORTE

10.1 - A BÊNÇÃO DO CORPO FÍSICO

- No corpo humano existem 150.000 a 190.000 Km de artérias, vasos e veias, suficientes para completar quatro voltas no globo terrestre, constituídos num circuito único que leva sangue para nutrir um total de aproximadamente cem trilhões de células, as quais renovam-se continuamente num processo de reencarnação celular, preciso e controlado que mantém saudável a vida do indivíduo

- Há no cérebro, aproximadamente, cem bilhões de células pensantes, os neurônios, cada um dos quais conectados a 10.000 outros neurônios, o que possibilita a existência de cem trilhões de conexões destinadas à troca e processamento simultâneo de milhares de informações recebidas por segundo, acerca de todo o tipo de estímulos externos e internos, através dos aparelhos perceptivos da visão, audição, tato, paladar e olfato

- Todo esse aparato incrivelmente complexo, desenvolvido ao longo de dois bilhões de anos pelo Princípio Inteligente Universal

- Desse modo, é incumbência do discernimento e da livre vontade, resguardar e cultivar as potencialidades do sagrado invólucro material recebido das mãos amorosas do Universo

- Nesse esforço de autopreservação, enquanto não ocorre a harmonização, o Ego ainda arrogante, num mecanismo de fuga da responsabilidade, identifica externamente supostas agressores, estabelecendo hostilidades e ataques inúteis que redundam, estes sim, em danos reais em quem os engendrou, perpetuando conflitos e postergando o necessário e inevitável autoenfrentamento

- A paz e a serenidade próprias da harmonia entre Ego e Self, percebidas no estado numinoso, provém da constatação segura de que não há ameaças externas reais quando se está consciente de si mesmo e sinceramente empenhado na Reforma Íntima

- Constata-se, ironicamente, que a principal causa de infortúnios e sofrimentos é a expectativa e o respectivo medo de que os mesmos possam ocorrer, tornando-nos vítimas antecipadas de meras expectativas, que talvez jamais se concretizem


10.2 - A VIDA HARMÔNICA

- A transição da matéria, tida como inanimada, para o estado de vida orgânica, não é compreendida pelo saber humano, todavia sabemos que: é assim que tudo serve, tudo se coordena na natureza, desde o átomo primitivo até o arcanjo que, ele mesmo, começou pelo átomo (Questão 540, do LE)

- O desconhecimento da realidade espiritual, que transcende o mundo sensorial e os ditames do Ego, dificulta o abandono da matéria, pois não se pode adentrar com serenidade numa realidade que se desconhece, e, o desconhecido, nesse caso, causa a repulsa, a desconfiança e o medo

- Se por um lado a aproximação entre Ego e Self é consequência evolutiva alcançada após muitas reencarnações, são também consequências as enfermidades e os desvios morais. Assim, onde se encontre o enfermo psicológico ou físico ou mental, aí está a totalidade dos seus atos em reencarnações anteriores agora refletidos na conduta angustiosa ou aflitiva que o aturde

- A coragem e a determinação do autoenfrentamento conduz o indivíduo à descoberta de inúmeras alternativas e caminhos de reconstrução

- Quem verdadeiramente quer os fins busca os meios, porém , não enxergar os meios é pretexto frequente de quem não quer enfrentar a labuta. É a fuga dos que optam  pela máscara de vítimas das crueldade e injustiças dos que o cercam e do mundo em geral


10.3 - EQUIPAMENTOS PSICOLÓGICOS PARA O SER

- O Self, na condição de energia pensante, ou princípio inteligente do Universo, apetrechou (muniu) a alma humana com todo um arsenal de equipamento psicológico para o desempenho da tarefa que deve executar, a iluminação

- Há, portanto, na alma humana, recursos originalmente em estado latente que aguardam para serem despertados, com o concurso da vontade e do discernimento

- Joanna de Ângelis, de forma didática e prática, agrupa esses recursos em seis vertentes distintas:

(3) A prática da caridade
(4) A autoanálise frequente na busca do “Si mesmo”
(5) O cultivo do relacionamento “Criatura-Criador”, através da oração
(6) O pensamento

(1) A alegria de viver

- A alegria é o estado puro ou original da vida e desaparece quando surgem os conflitos e quando vêm à tona os condicionamentos que há séculos residem no inconsciente

- Esses conflitos manifestam-se quase sempre através de estruturas mentais ou condicionamentos inconscientes que, por não serem racionais, transformam os simples desafios da vida cotidiana em sofrimentos

- Para que se alcance a alegria de viver, há que subordinar a mente e a imaginação ao jugo da vontade lúcida e do discernimento, eliminando a ação de devaneios(divagação) e projeções mentais carregadas de imagem negativas, sombrias

- A alegria de viver pressupõe também a existência de problemas e desafios que, fora da visão dilatada do Self, são classificadas como sofrimento pelo Ego imaturo

(2) A reflexão antes de qualquer atitude

- A reflexão antes de qualquer atitude viabiliza a ação do discernimento ao mesmo tempo em que impede a ação sempre tempestiva do Ego imediatista

- Impedir a reflexão prévia é habilidade natural do Ego, o que torna conveniente e sábio o antigo conselho de se “contar até dez”, antes de qualquer atitude passional (excesso de paixão)
- A reflexão é, por excelência, o discernimento posto em prática, a ponderação que possibilita o uso da criatividade na elaboração de soluções adequadas


- Contudo para que o talento do discernimento atue plenamente, a psique deve estar aberta a essa criatividade e isso pressupõe estar livre dos paradigmas (padrão), dos condicionamentos e dos padrões preestabelecidos, os quais se incrustam no inconsciente e, sob o comando do ego medroso, repudiam tudo o que for novo e inusitado, por julgar mais seguro manter-se no já experimentado e aceito padrão social

- Portanto, a criatividade, como exercício de reflexão, provém do espírito, que para romper com os padrões egoicos e libertar-se do jugo dos instintos, pressupõe certa dose de coragem e de ousadia

- Já a impulsividade provém do atrevimento insano do Ego que busca, de forma imediatista, a mera satisfação sensorial e a falsa sensação de domínio sobre o meio

Retrata-se, assim, mais uma vez, o conflito Ego-Self que  deve ser extinto pela consciência e pela compreensão do primitivismo do Ego

- A reflexão, desenvolvida e aprimorada pela constância, induz naturalmente o indivíduo a considerar sua relação, enquanto criatura, com Aquele que o criou

- A reflexão contemplativa da natureza em seu equilíbrio e harmonia tem levado muitos indivíduos à percepção da relação criatura-Criador ou pensamento-oração que faculta sintonia com as forças cósmicas de onde procedem todas as coisas materiais, e em forma de energia vitaliza e acima quantos se utilizam desse comportamento

- Dessa forma, a relação criatura-Criador, uma vez introspectada no consciente, inicia, por fazer parte da sua natureza intrínseca, o movimento livre e voluntário em direção à integração harmoniosa consigo mesmo, com o outro e com o Universo, ou seja, à caridade


10.4 - A FATALIDADE DA MORTE
- O medo da morte sempre habitou a psique humana, como descreve Joanna de Ângelis : “Atavicamente, o medo da morte e do aniquilamento permanece como um arquétipo terrível e ameaçador, herança do período da caverna, quando ocorria o fenômeno que não era interpretado pelo homem primitivo, que via o outro ser decompor-se, tresandar podridão e não mais voltar ao convívio”... “Sem a capacidade de discernir, o culto do sepultamento desenhou-se-lhe no Self, dando lugar às superstições compatíveis com o nível evolutivo e gerando no inconsciente profundo o horror da ocorrência não compreendida”

- Assim o horror da morte sempre esteve atrelado ao horror do aniquilamento, do final inexorável e total da existência do indivíduo

- A consciência da imortalidade representa um passo evolutivo gigantesco, principalmente considerando-se o seu desdobramento imediato que é a percepção de que o que sobrevive é a essência do indivíduo

- Há também uma graduação evolutiva na qualidade dessa percepção, na medida em que se distingue a essência transcendente e infinita do indivíduo das percepções sensoriais e instintivas do Ego

- Sofrer, pois, enquanto encarnados, as pressões do Ego, as tentações absorventes da sensualidade e do orgulho, as sensações acachapantes do medo e dos conflitos internos, a dor e a debilidade física, as frustrações de não açambarcar ainda no consciente o sentido fraudulento do sofrimento e por isso amargá-lo por séculos a fio, são instrumentos nobilíssimos de descoberta e aprendizado do sentido da vida

- Só assim todas as mazelas, misérias, infortúnios e tragédias incluídas no drama da história humana passam a ter sentido, o que de outro modo seria a caos existencial, a falência de todo e qualquer significado possível da existência humana e de quaisquer realizações da mesma

- A própria morte seria a acusadora implacável do absurdo patético da vida


                                        







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