segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

Espelhos da Alma


LIVRO : “ESPELHOS DA ALMA : UMA JORNADA TERAPÊUTICA” (Núcleo de Estudos Psicológicos Joanna de Ângelis)

INTRODUÇÃO : Joanna de Ângelis
- A consciência não é cerebral, assim como não o são a psique, o Self, os arquétipos que formam a personalidade, a individualidade, a identificação. Como decorrência, a Sombra com todas as suas heranças atávicas encontra-se imantada ao Ego que lhe sofre os impositivos inevitáveis
- Nesse longo processo de desenvolvimento da psique, momento houve em que o Ser era apenas instinto, uma forma de unidade psíquica, e, repentinamente, surgiu-lhe a primeira emoção : o medo
- Houve a partir desse momento, uma profunda fissão dessa unidade, dando lugar ao aparecimento embrionário do eixo Ego-Self, que oportunamente hão de unir-se outra vez, numa fusão de perfeita identificação. Isto ocorrerá quando toda a Sombra for diluída pela autoconsciência e mesmo a do Self ceder lugar à harmonia do autoconhecimento
- Ninguém pode ajudar aquele que se não auxilia, porquanto as tarefas que dizem respeito à conquista do Si-mesmo são intransferíveis, não podendo ser realizadas por outrem
- O Self, o arquétipo que representa a unidade dos sistemas consciente e inconsciente, funcionando, ao mesmo tempo, como centro regulador da totalidade da personalidade, é o responsável por todas as ocorrências da viagem humana em direção ao futuro

CAP 2 - A ESTRUTURAÇÃO DO EGO OU EU (Dr Gelson L. Roberto)
- O espírito não pode reencarnar com todas as informações da memória do passado e também ainda não tem a capacidade de reter todas as informações vividas de maneira global e consciente. Cada espírito enxerga e compreende dentro da realidade evolutiva em que se encontra
- O Eu também carrega uma bagagem selecionada com uma estrutura e função que devem estar em sintonia com as necessidades e comprometimentos do espírito. Percebemos que o Ego é uma construção necessária e adequada para cada encarnação de acordo com a consciência do espírito. Uma noção de identidade apropriada àquela encarnação
- O Ego é o centro do campo da consciência e tudo que se torna consciente para nós passa pelo Ego. É através do Ego que todos os conteúdos conscientes se relacionam
- Joanna refere que o Eu é uma faceta de um outro Eu (Self) que é o espírito, um foco da consciência que faz a relação com os conteúdos que estão no campo dessa consciência. Jung percebeu o Ego como o centro da consciência, porém sublimou também as suas limitações, e o definiu como menor do que a personalidade inteira
- Também deve ser considerado como uma instância que responde às necessidade de uma outra, que é o Self, o princípio ordenador da personalidade inteira. O Eu é o sujeito apenas da minha consciência, mas o Self (Si-mesmo) é o sujeito de todo o Ser, também da psique inconsciente. Dentro dele está o Eu
- Dentro de nós existem várias pessoas, cada uma agindo e tendo uma função própria. Podemos reconhecer em nós , por exemplo, uma criança, um velho, uma mulher, um ser inferior e sombrio, uma máscara, uma vítima, uma mãe, entre outros. Algumas dessas realidades internas têm uma função específica e importante na psique. O Ego é um desses complexos e possui papel importante na integralidade da personalidade
- Podemos entender o Ego como uma síntese de várias consciências de sentido, na qual cada aspecto da consciência está submerso na unidade do complexo do Eu dominante. Assim, a nossa experiência, do ponto de vista egoico, é sempre parcial, não podemos estar conscientes de toas as coisas que experienciamos ou de tudo que os sentidos registram, muitas coisas são captadas ou percebidas inconscientemente e podem emergir em algum momento quando o Ego, por algum motivo, perde sua condição de comando, geralmente por um abaixamento do nível mental. Como podemos perceber, a consciência não está totalmente sob o controle do Ego

- Aspectos da função operacional do Ego
Primeira : O Ego funciona como centro, o sujeito e o objeto de minha identidade pessoal e da consciência, isto é, da consciência da identidade pessoal
Segunda : Ele é o centro e quem movimenta, pelo menos aparentemente, planos de ação, decisões e escolhas
Terceira : Tenta ser o direcionador e organizador dos impulsos pessoais, traduzindo em vontade e ações dirigidas para fins específicos
Quarta : Estabelece um eixo com a personalidade plena e centro da psique chamado Self (Espírito), tendo a função de contemplar e responder às necessidades superiores do Espírito
- Em termos básicos, o Ego é a instância responsável pela diferenciação que o indivíduo é capaz de realizar entre seus próprios processos internos e externos
- O Ego se move entre forças polares num movimento “de um lado para o outro” sem mesmo se dar conta disso. Por exemplo, um indivíduo pode estar identificado com um padrão autoritário em que de um lado está o carrasco e de outro a vítima. Em muitos momentos ele vai vivenciar esse lado carrasco e em outros projetar esse lado na pessoas, sendo que com isso pode se sentir como vítima de situações apresentadas. Essa tendência polar é fruto de um processo mais amplo, que é a capacidade que o ego tem de entrar em um estado alterado de consciência, podendo atingir estados psíquicos favoráveis ou mesmo desintegradores
- É muito fácil nos iludirmos e criarmos uma falsa ideia de nós mesmos, pois existe uma diferença entre o que pensamos, entre a imagem que temos de nós mesmos e nossos conteúdos internos

CAP 4 - A JORNADA HEROICA DA ALMA (Íris Sinoti))
- Quando nos deixamos guiar pelos desejos imediatos do Ego e construímos nossa vida dentro desse limitado espaço na falsa certeza de segurança, esquecemo-nos da necessidade de “tomarmos a nossa cruz”. Tomar a própria cruz significa assumir e realizar conscientemente o próprio padrão particular de totalidade, ou seja, quem abrir mão das satisfações imediatas do Ego, de viver uma vida egoica, encontrará o Si-mesmo
- Durante o processo de individuação muitas vezes podem ocorrer conflitos com os familiares, justamente porque a família é o nosso espelho mais próximo e conhecido
- Se nos permitirmos relativizar os interesses do Ego, colocá-lo a serviço do Self (Deus), encontraremos a capacidade de renovar. E uma vida nova começa para nós, pois : “Conscientizar a Sombra, diluindo-a, mediante a sua assimilação, em vez de ignorá-la, constitui passo avançado para a perfeita identificação entre Ego e Self”
- Quanto mais conteúdos sombrios, maior será a necessidade de usar a persona, pois ao jogarmos esses conteúdos no inconsciente, construímos na vida consciente uma imagem falsa, por considerar que esse ou aquele comportamento é o mais aceitável
- Sem o autoamor, que é pré-requisito para amar o outro, não teremos recursos para dignificar nem a nossa vida nem a do próximo, pois como podemos reconhecer o valor de alguém se não reconhecemos o nosso próprio valor?

CAP 5 - O CONFRONTO COM A SOMBRA (Marlon Reikdal)
5.1 - A PRESENÇA DA SOMBRA
- Muitas vezes, fazemos opções elegendo aquilo que acreditamos ser o melhor para nós e rejeitamos, declaradamente, certas coisas. Mas também fazemos opções destituídas de intenção e de consciência. A cada eleição por algo, outra parte de nós e do mundo se torna naturalmente rejeitada. Todos esses aspectos não escolhidos e reprimidos vão constituindo, pouco a pouco, a nossa Sombra
- Esses opostos em nós são chamados de persona e Sombra. Na psicologia analítica, são vistos como dois irmãos ou duas irmãs. Trata-se de um par de opostos - a Persona é a pessoa pública, oficial e adequada, a parte conhecida por mim e mostrada aos outros; e a Sombra é a parte escondida, solitária e inadequada, a parte que escondo dos outros e, o que é pior, de nós mesmos
- A persona, ou como denominamos cotidianamente : a máscara, é um aspecto essencial da psique para a convivência em sociedade
- É preciso maturidade para compreender que não somos apenas a máscara, nem apenas a Sombra : constituímo-nos no somatório das duas e de muitas outras partes que compõem o ser humano
- A Sombra não silencia à repressão, muito pelo contrário, quanto mais a consciência tenta a anulação, mais a personalidade sombria reage

5.2 - A IDENTIFICAÇÃO DA SOMBRA
- As filosofias que creem na influência dos espíritos atribuem ao plano espiritual a causa de todas essa interferências na personalidade, nos impondo um comportamento que não temos. Certamente, devemos considerar mais esse fator na compreensão do comportamento humano, porém não podemos esquecer que já ficou estabelecido na Codificação e nas obras complementares que os espíritos influenciam os elementos que se encontram dentro de nós, sejam evidentes ou ocultos
- Os espíritos não são capazes de criar defecções morais em nós, mas conseguem despertar aquilo que estava adormecido, mais íntimo, e que talvez nem nós mesmos tenhamos consciência. Assim, podemos tomar os temas de nossas obsessões como um indicativo de uma parte de nosso lado Sombrio

5.3 - CONSEQUÊNCIAS DA NÃO IDENTIFICAÇÃO
- Quando Jung disse que quanto menos a Sombra estiver incorporada a nossa vida consciente, mais escura e espessa ela se tornará
- Toda vez que não damos atenção à tentativa de integração da nossa Sombra, essa energia acaba se impondo de maneira vigorosa e impulsiva pelo somatório de energias que foi aos poucos retida, gerando danos comportamentais como a água represada que assola as barreiras impostas artificialmente
- Em todas as nossas relações há conteúdos inconscientes, entretanto, quando eles são reprimidos por medo de contato, acabarão por interferir de modo mais ostensivo o na forma de vermos, avaliarmos e nos relacionarmos com as pessoas “por ter um fator inconsciente que trama as ilusões que encobrem o mundo e o próprio sujeito. Esta e tantas outras formas de nos escondermos, condenando nossas relações, são denominadas pelos psicanalistas de mecanismos de defesa do Ego
- Joanna de Ângelis atesta que existe no ser humano uma natural e mórbida tendência de ignorar em si e projetar nos outros certas deficiências pessoais. Subtendemos o que as pessoas estão pensando a nossa respeito, imaginamos o que devem ter dito de nós, supomos porque nos trataram dessa ou daquela forma, mas, na verdade, estamos falando de nosso interior. Essas interferências são o resultado da forma como nos vemos e como nos tratamos (nosso lado sombrio), e pela incapacidade de percebermos e assumirmos isso, projetamos
- Toda vez que fazemos suposições estamos falando de nós mesmos. Se o outro não disse, se não explicitou, se não declarou, esse conteúdo é meu e não dele. Geralmente ficamos na certeza da suposição, no que achamos que ele quis dizer, no que ele deu a entender, mas se todos esses elementos não vieram do outro, claramente não vieram do outro, claramente vieram de nós Na projeção vemos e criticamos no outro aquilo que está dentro de nós e não é enxergado (a Sombra)
- Outro elemento importante para identificarmos as nossas projeções é prestar atenção nas reações que temos. Caso estejamos incomodados com a atitude do outro, nos ofendendo facilmente ou indiretamente, afetados pelo que outro faz, ou como faz, se nos irritamos ou queremos que mude, não há dúvida, estamos tratando dos nossos conteúdos projetados nele

5.4 - O CONFRONTO COM A SOMBRA
- Viver o confronto com a Sombra não quer dizer ser tomado por ela, em uma submissão aos seus impulsos, que se torna tão ou mais prejudicial que a repressão
- Se a Sombra da psicologia analítica está diretamente ligada às nossas experiências passadas, não negá-las é um passo importante, caso contrário, estaríamos negando o nosso próprio passado
- É diferente a “aceitação da Sombra” de “Identificação com a Sombra”, o que seria um prejuízo, Pois é importante que os elementos do inconsciente falem para nós e não através de nós, enquanto permanecemos na ignorância deles
- Viver o encontro com a Sombra sem ser esmagado por ela é a nossa tarefa. Rever conceitos, redimensionar nossa imagem e destituirmo-nos de determinados status, são questões existenciais para todos nós que pautamos nossos valores nas exterioridades
- Precisamos entender que ao fazermos contato com a Sombra não nos tornamos piores, embora essa seja a sensação mais comum. Se pensarmos bem, estes conteúdos já faziam parte de nós, já estavam lá e influenciavam nosso comportamento. Já eram sentidos ou vistos por muitas pessoas, talvez, sendo apenas por nós desconhecidos
- A Sombra que existe no ser humano não deve ser combatida, senão diluída pela integração na sua realidade pessoal. A diluição da Sombra se dá pela integração, ou seja, pela capacidade de assimilarmos e permitirmos que ela faça parte de nossa vida

5.5 - CONSEQUÊNCIAS DO ENCONTRO CONSIGO MESMO
- A Sombra significa “O lado escuro da personalidade, podendo ser analisada como herança dos atos ignóbeis ou infelizes que o espírito gostaria de esquecer ou negar, mas que prosseguem em mecanismo de punição, dando lugar a conflitos e complexos perturbadores, expressando-se de forma densa”
- A Sombra está ligada ao nosso passado reencarnatório, e o quanto, por fazer parte de nossa intimidade, torna-se um equívoco querer livrar-se dela como alguém que se livra da prova de um crime. Se cremos num passado que , em geral, é de equívocos e complicações devido a nossa nível evolutivo, não devemos nem podemos fingir ser alguém que somos
- Os relatos psicoterapêuticos de Jung demonstram como o processo de Individuação quase sempre começa com essa humilde integração da Sombra à noção consciente que a pessoa tem de si mesma, a primeira e mais importante tarefa no caminho para a saúde psíquica
- Jung afirma que a aceitação de si mesmo é a essência do problema moral e o centro de toda uma concepção do mundo, e nos proporciona uma reflexão inigualável ao dizer : “Que eu faça um mendigo sentar-se à minha mesa - Que eu perdoe aquele que me ofende e me esforce por amar, inclusive o meu inimigo, em nome de Cristo, tudo isso, naturalmente, não deixa de ser uma grande virtude: “O que faço ao menor dos meus irmãos é ao próprio Cristo que faço”. Mas o que acontecerá, se descubro, porventura, que o menor, o mais miserável de todos, o mais pobre dos mendigos, o mais insolente dos meus caluniadores, o meu inimigo, reside dentro de mim, sou eu mesmo, e precisa da esmola da minha bondade, e que eu mesmo sou o inimigo que é necessário amar”

CAP 6 - A VIDA NÃO VIVIDA (Íris Sinoti)
6.1 - COMO PERDEMOS NOSSA AUTENTICIDADE
Tudo nos move para fora, e perdemos o endereço da nossa casa interior. Somos homens e mulheres vivendo a era do vazio existencial, na qual ignoramos quem somos, de onde viemos, o que sentimos; em resumo, não temos certeza do que realmente desejamos ou necessitamos, e com isso nos tornamos escravos em nossa própria vida
- Ao transferirmos nossa autonomia para o ambiente externo ficamos à mercê da vulnerabilidade e da dependência infantil em busca de segurança. Só que buscar segurança acima de tudo diminui a profundidade e o objetivo da vida
- Cedo ou tarde teremos que admitir que, muito provavelmente, não tenhamos vivido a nossa vida verdadeiramente, mas a tenhamos vivido sob a óptica limitada da cultura, dos nossos pais, da genética, e tudo que compôs o nosso mundo percebido
- O fator que atua psiquicamente de um modo mais intenso sobre a criança é a vida que os pais ou antepassados não viveram. A infecção dos filhos se dá por via indireta, fazendo com que eles assumam uma atitude em relação ao estado de espírito dos pais : ou reagem em defesa própria...ou se tornam vítimas de uma coação interna de imitação, que os paralisa psiquicamente
- Os filhos praticamente são obrigados a realizar aquilo que eles não são, ou seja, terminam por realizar os anseios dos pais; a única maneira de salvar os filhos desse veneno é : os pais precisam viver suas vidas, adquirir uma atitude sincera diante dos problemas da vida

6.2 - QUEM SOU EU ALÉM DOS PAPÉIS QUE INTERPRETEI ?
- Quem entre nós está livre de dever ganhar o amor do outro, ou mantê-los a distância para que não nos sufoquem, ou usá-los para que controlemos nosso frágil ambiente? Sim é possível que em algum momento da nossa trajetória descubramos que estamos vivendo a vida de outra pessoa e que os valores dessa (s) pessoa(s) direcionam as nossas escolhas

6.3 - VIVENDO OUTRA VEZ A MESMA VIDA
- Se existe algo que precisamos aprender é a viver a realidade do momento presente. Afinal, o presente é o momento que dispomos; o passado só existe porque teimosamente nos agarramos a ele e o futuro só pode ser vislumbrado. Mas por medo de viver no “agora”, fugimos para viver o “quando” do futuro, ou “naquele tempo” do passado e deixamos de existir no presente

6.4 - O SOFRIMENTO : COMPANHEIRO DE JORNADA
- Toda vez que a vida apresenta fatos e/ou situações cuja capacidade do Ego de resolvê-las ou compreendê-las é testada, sofremos. Sempre que os nossas anseios são atendidos, sofremos. E ao abrigarmos falsas necessidades, sejam elas materiais e/ou afetivas e não conseguimos atendê-las, sofremos
- Joanna de Ângelis nos mostra que “a maioria dos sofrimentos decorre da forma incorreta por que a vida é encarada. Na sua transitoriedade, os valores reais transcendem ao aspecto e à motivação que geram prazer. Esse é o sofrimento da impermanência das coisas terrenas”
- Infelizmente, a maioria de nós conhece o sofrimento causado pela inautenticidade da vida, já que muitas vezes escolhemos viver uma não vida, mas não podemos esquecer que a primeira condição, a que Jesus escolheu, é também nossa : viver a vida que precisamos viver, com e apesar do sofrimento
- Enquanto não aceitamos a dor, não aprendemos que os enfrentamentos fazem parte da vida, e que precisamos lutar pela vida, assumindo a responsabilidade de tudo que encontramos na nossa trajetória

6.5 - O MEDO, A RAIVA E A NÃO VIDA
- .A pessoa que somos hoje construiu as bases da vida com o cimento do medo e os tijolos da raiva, mais precisamente dos medos arcaicos da infância. Limitamos nossa vida e enterramos muitas das nossas possibilidades por acreditarmos que “aqueles fantasmas” iriam nos assustar. Quais fantasmas ? a vida não vivida dos nossas pais

6.6 - O ESPELHO
- Os filhos, inconscientemente, tendem a direcionar suas vidas de forma a compensar o que os pais não realizaram
- Projetamos no outro a nossa vida não vivida, e esse é o maior meio de fracasso nos relacionamentos. Quanto mais tempo juntos, por não estarmos conscientes das projeções, passamos a exigir que o outro preencha os nossos espaços vazios e perdemos a oportunidade de crescimento que o relacionamento nos oferece
- Quando estamos em desunião conosco, geralmente nos encontramos descontentes, e como esse estado é inconsciente, projetamos em nossos parceiros os motivos que acreditamos serem os geradores do nosso desconforto

6.7 - A SEGUNDA METADE DA VIDA : ARRUMANDO GAVETAS, ENCONTRANDO SIGNIFICADO
- Acumulamos tanta vida não vivida que somos surpreendidos por necessidades insatisfeitas e olhares em direção ao passado
- Quando não nos questionamos, ficamos a serviço de ideias carregadas de forte carga afetiva: os complexos; colocamos nossa vida no piloto automático e passamos a viver padrões repetidos, a ver o mundo por uma pequena lente e abrimos mão da nossa livre escolha. E a liberdade tão desejada por nós não será alcançada, pois estaremos presos nas nossas histórias internas
- Quando violamos a nossa psique e tentamos inutilmente impedir seu fluxo, pagamos um preço muito caro, seja no corpo, através da doença, nas tempestades afetivas ou ainda assistindo nossos filhos carregarem o peso da nossa vida não vivida em suas próprias jornadas
- Quando tiramos das gavetas e trazemos à consciência, a vida não vivida torna-se o combustível para uma consciência maior. Somos capazes de romper com antigas fronteiras e ultrapassar limites de nós em busca da profundidade de nosso ser

CAP 7 - AS RELAÇÕES COMO BASE PARA O EXERCÍCIO DOS SENTIMENTOS (Gelson Roberto)
7.1 - ANIMA E ANIMUS
- Podemos relacionar esses “personagens internos” com o conceito de complexo na psicologia analítica. Todo complexo tem um núcleo que é o arquétipo. Assim para cada complexo podemos reconhecer um arquétipo em seu centro. O Ego, a Sombra, o complexo materno/paterno, entre outros, são exemplos de complexos que se formam como condição de nossa realidade psíquica
- Sabemos que o espírito não tem sexo no sentido estreito que entendemos e que em sua natureza ele é tanto feminino quanto masculino, precisando experimentar essas duas realidades em seu processo evolutivo
- O espírito pode ter um corpo masculino, mas com acentuada marca feminina e vice-versa sem que isto determine invariavelmente sua preferência sexual
- onde nosso Eu e nossos complexos de anima e do animus estarão ativados, nos colocamos em confronto com nossas imagens internas, necessidades e sentimentos que devem ser trabalhados



7.2 - O SENTIMENTO INFERIOR
- O poder sobre o outro significa a necessidade ou o desejo de ter o controle, por alguma necessidade não reconhecida estará presente em todos os meus relacionamentos humanos. Isso pode vir de várias maneiras : dar ao outro conselho não solicitado sobre como melhorar uma atitude; insistindo numa observância rígida em relação a um comportamento; fazendo interpretações agressivas para estabelecer o predomínio ; banalizando os efeitos e sentimentos que outras pessoas geram dele
- Tudo isso pode estar indicando uma resposta a um jeito inferior de se relacionar por necessidade de se sentir valorizado ou importante
- Ter sentimentos e usar a função sentimento são coisas diferentes. Podemos ter sentimentos negativos na forma de conteúdos infantis e regressivos, viciosos, destrutivos, etc, e ter a maturidade de não explodir ou deslocar esses sentimentos para os outros. Ou podemos ter um sentimento positivo e não saber comunicar e agir de maneira inadequada apesar do sentimento positivo. Independente dos conteúdos envolvidos, a função sentimento só é inferior quando distorcida, imprópria ou inadequada
- Quando somos envolvidos e tomados por sentimentos, os transformamos em cargas afetivas. Essa cargas afetivas tendem a ser reprimidas, agregando distúrbios corporais ou comportamentais, e nos tornamos estranhos, pesarosos, exigentes, entre outras coisas
- Ficamos presos em complexos que geram fantasias perniciosas, por exemplo : a tentativa de ficar antecipando coisas de forma negativa, ou acabamos deslocando-os para os ambientes seguros a que estamos vinculados, principalmente a família e o trabalho. As relações são recheadas de projeções e exigências que desgastam o relacionamento em discussões intermináveis e imposições de necessidades
- Outro indício de nosso sentimento inferior é a perda é a perda de contato da pessoa com aquilo que sente. Quando a função sentir é, por algum motivo, deixada de lado ou ficou desestimulada, torna-se clandestina, descendo para esferas mais inconscientes
- Temos muitas formas de mascarar e fugir do confronto com a nossa condição. Preferimos deixar de lado os desafios dolorosos de nossa vida, perdendo a decência através de artimanhas pueris e primitivas. Quantos se declaram espiritualista, mas se utilizam de informações, deturpando os conhecimentos espirituais, para justificar certas fraquezas ou para fugir de responsabilidades

7.3 - A BASE PARA A EDUCAÇÃO DO SENTIMENTO
- O sentimento só pode ser educado através do próprio sentimento, através da fé
- Os sentimentos negativos, quando começamos a relacioná-los de forma adequada e também nos relacionarmos apropriadamente com eles, iniciamos o processo de elaborar um sentimento superior
- O fato de trazermos esses sentimentos para a consciência gera conhecimento e começamos a modificar nossa personalidade, ocorrendo uma integração entre o Eu e o sentimento negativo
- A educação dos sentimentos exige coragem psicológica, uma coragem da alma para encontrar-se consigo mesma e enfrentar os seus fantasmas e monstros interiores, para aceitar-se e humildade para conseguir colocar-se por baixo, ao encontro de nossa inferioridade e impotência
- As relações são fundamentais para o exercício dos sentimentos porque o outro funciona como um espelho para nós
- Os relacionamentos pessoais requerem sentimentos pessoais. Nas pequenas atitudes e situações encontra-se o degredo da relação. Aprendemos com os sábios que, apesar de chegarem às questões profunda e cósmicas, nos trazem a beleza e o conhecimento pelas pequenas coisas. São os detalhes pequenos que “matam” ou dão “vida” para uma relação
- O trabalho com nossos sentimentos evita a fuga ou que nos tornemos dissociados. Quando deixamos de lado esses exercícios, os sentimentos inferiores descem a níveis mais instintivos e/ou desaparecem nas profundezas do inconsciente
- Por último, devemos analisar certas considerações que julgam as pessoas com a função sentimento bem-trabalhada como supostamente frias. São pessoas que parecem não se envolver muito com o outro ou não demostrar suas emoções. Na realidade, essas pessoas conseguiram estabelecer uma harmonia e um equilíbrio em torno da função sentimento. Assim, essa suposta “frieza” é fruto de uma capacidade de lidar com as tensões emocionais

CAP 8 - O AUTODESCOBRIMENTO E O SIGNIFICADO EXISTENCIAL (Cláudio Sinoti)
8.1 - A NECESSIDADE DO AUTODESCOBRIMENTO
- Carl Rogers, um dos precursores da Psicologia Humanista e da Transpessoal, estabelece que o indivíduo deve ser o seu próprio campo de estudo, o seu próprio laboratório de experimentação
- Como ainda não temos olhos para perceber a totalidade que somos, o nossa trabalho é observar o que já é perceptível em nós, e de forma atenta verificar se a nossa forma de ser e de agir estão de acordo com a proposta de vida plena, que deve ser o propósito maior do autodescobrimento

8.2 - AS ILUSÕES HUMANAS
- Aprisionada pelas ilusões, a energia psíquica vai sendo desviada do curso que poderia trazer significado à vida, e prossegue vinculada à inconsciência que marca grande parte da humanidade
- Tipos de ilusões :
(1) A ilusão do sucesso e da imagem
- Vivemos numa sociedade em que a competitividade é vista como virtude. Desde criança, a educação é direcionada para sermos alguém de sucesso no mundo
- O Ser Real que somos fica à margem, enquanto perdemos tempo na construção de uma personagem. Aprendemos que a essência é menos importante do que a imagem projetada, e o custo de tudo isso é muito elevado
(2) A ilusão do ter
- Novos deuses pairam soberanos no Olimpo da era moderna, muito vinculados à ilusão do sucesso : consumo, dinheiro e poder
- O valor daquilo que se compra e ostenta parece nos pertencer: um perfume famoso, a marca disputada, o carro potente, tudo isso ilude seus donos, fazendo-os pensar que sua personalidade agrega o valor do objeto possuído
- Novamente, o valor intrínseco desconhecido é transferido às coisas, cuja transitoriedade traz consigo a angústia da sensação de perda, levando a novos impulsos consumistas, até que tenhamos a coragem de enfrentar o “vazio existencial”
(3) A ilusão do prazer
- Aprendemos a conhecer o mundo pelos nossos sentidos, e a sensação é uma das funções iniciais do processo de desenvolvimento
- O problema não são os prazeres que a vida proporciona, mas a forma como esses prazeres são vividos
- Na busca de autodescobrir-se, é necessário promover uma avaliação se são construtivos, dando sabor e ânimo à existência, ou se são destrutivos, para nós e para os que compartilham conosco, levando a resultados lamentáveis
- Freud percebeu o forte impulso psíquico para a realização do prazer, no entanto, não obstante as pulsões orgânicas e de prazer, que ele explicava através do ID, existe um processo psíquico muito mais amplo e profundo : a psique busca e promove a própria realização do Ser, mas necessita da participação consciente para que sintonizemos, corpo e alma, sessa jornada profunda
- Não se trata de uma negação do corpo e de todas as suas pulsões, nem mesmo do prazer, mas da canalização construtiva dessas forças

8.3 - REQUISITOS PARA O AUTODESCOBRIMENTO
(1) Satisfação pelo que é, ou se possui, ou como se encontra
- Cabe diferenciar “o que se é” do “que se está”
- Temos ao nosso dispor uma máquina fantástica, o corpo humano, trabalhada durante eras para possibilitar ao espírito manifestar sua consciência e evoluir. Mas o desconhecimento que temos das próprias potencialidades faz com que mal utilizemos as ferramentas que temos ao nosso alcance
- Dito de outra forma, o problema não é o que somos, mas da nossa limitada forma de perceber a vida, que faz com que desconheçamos o próprio potencial que dispomos
(2) Desejo sincero de mudança
- Muitas vezes, por mais incômoda que pareça uma situação, o Ego imaturo vê ganhos em permanecer na situação na qual se encontra, mesmo reclamando dela, e desta forma, nós mesmos boicotamos a mudança que dizemos querer. É preciso ter coragem para assumir isso
- Joanna de Ângelis : “Inicialmente, torna-se indispensável querer-se exercitar a vontade, em vez de refugiar-se em mecanismos conflitivos-comodistas, por meio dos quais se justifica não se possuir vontade suficiente para serem alcançadas os objetivos que se gostaria de atingir”
(3) Persistência no tentame
- Persistência é a vontade que se mantém durante o período necessário para que a transformação se efetive
- É a força que provém do Alma, e que deve encontrar o Ego receptivo para manter-se de pé
(4) Dispositivo para aceitar-se e vencer-se
- À medida que nos aceitamos, precisamos encontrar o inimigo a ser combatido. E nós nos vencemos quando reconhecemos nossas limitações e a postura inadequação perante a vida; Quando temos a coragem de assumir a responsabilidade pelos erros cometidos ao longo do caminho; quando reconhecemos que nós mesmos, somente nós, somos capazes de transformar as nossa vidas
(5) capacidade para crescer emocionalmente
- A educação emocional é negligenciada e aprendemos mais a escondê-la, alimentando a persona, do que a canalizá-la de forma saudável, para que esteja a serviço do processo de individuação
- Segundo Jung, as pessoas costumam ser tomadas por um estado emocional diverso do que gostariam de apresentar, a partir de determinados acontecimentos que perturbavam o funcionamento da psique. Por isso ele introduziu o conceito de “Complexos” : “É a imagem de uma determinada situação psíquica de forte carga emocional e, além disso, incompatível com as disposições ou atitude habitual da consciência
- O problema dos complexos é que nós os desconhecemos, e isso se torna perigoso, pois eles podem “ter-nos”
- Joanna de Ângelis : “Os complexos sempre refletem a Sombra dominante no ser, que tenta ignorá-la, impedindo-lhe o enfrentamento com o Si-mesmo, o que a diluiria facilmente, por incorporá-la à sua realidade
- Formas de superar os complexos :
(1) Conhecê-los através do exercício constante de auto-observação, de atenção ao nossa comportamento e aos excessos praticados
(2) Maturidade para lidar com as críticas que nos dirigem
- O grande desafio da existência humana está na capacidade de explorar esse mundo desconhecido, dele retirando todos os potenciais que possam produzir felicidade e autorrealização
- Segundo Jung : “E quando um complexo perdido se torna, de novo, consciente, por exemplo, através do tratamento psicoterapêutico, o indivíduo sente que houve um aumento de força”
SIGNIFICADO EXISTENCIAL
- Se a noção de felicidade é feita a partir do EGO, é bem provável que essa felicidade construída em bases imaturas traga uma grande cota de frustrações
- Segundo Hollis: “Na perspectiva da psicologia analítica, assim como na espírita, a meta da vida não deve ser a felicidade, e sim o significado”
- O sentido da vida está em cada parte que vivemos, e que somos convidados a vivê-la por completo, de forma integral, pois somente assim atingimos a Plenitude de toda ordem, constatamos
- Talvez adiemos a busca de nós mesmos porque ainda não temos tanta certeza da nossa origem divina, ou por conta de temermos não suportar a dor ao retirar as densas névoas que construímos em volta da nossa essência
- E ao fugirmos de nós mesmos, normalmente escolhemos válvulas de escape para não ter que lidar com o chamado da alma
- É através da drogadição, sem contar nas fugas psicológicas emocionais, que incluem os vícios de toda ordem, constatamos que muitas são as vidas que perderam ou ainda não encontraram um sentido. Mas os vícios e os mecanismos de fuga são apenas artifícios para lidar com a ansiedade, muitas vezes consequência da tentativa que fazemos de fugir de nós mesmos
- Enquanto vivermos a vida no círculo estreito de percepção do EGO, é bem capaz que sejamos dominados pelas ilusões; enquanto acreditarmos que o sentido é apenas a representação de um dos papéis que ela nos apresenta: pai, mãe, filho, religioso, cidadão, etc

JOANNA DE ÂNGELIS
- Encarcerado o SELF no corpo físico, há sobre ele o predomínio das sensações, por serem as mais antigas experiências animais, especialmente por causa da resistência dos instintos básicos : nutrição, eliminação, sono e sexo, que prosseguem por toda a existência
- Essa ocorrência impõe necessidades prazenteiras, tais como as satisfações orgânicas e as primeiras emoções da vaidade, do prestígio social, da falsa superioridade em relação aos demais, e o corpo torna-se veículo, desde os já recuados jogos gregos, herança das competições Egípcias e mesopotâmicas a respeito da virilidade masculina, da beleza e fragilidade feminina, que despertam a inveja e propicia favores especiais dos poderosos
- A diretriz básica proposta pela Psicologia Espírita é a do autoamor, que induz ao autoconhecimento. Nos estágios inferiores, quando a SOMBRA domina o EGO, o indivíduo compraz-se na ignorância, por desconhecer as inesgotáveis fontes que proporcionam o bem-estar e a paz, mantendo-se em constantes fugas da responsabilidade e trabalhando sempre as projeções, a fim de justificar-se da indolência emocional e do atraso em que se debate
- Toda vez quando não logra êxito em qualquer empreendimento, a culpa é de outrem, para quem transfere os sentimentos frustrados em forma de mágoa
- De imediato, a ação do bem, isto é, a contribuição valiosa em favor do próximo e, por extensão, da coletividade, apresenta-se como novo paradigma para a conquista do êxito sobre a SOMBRA
- O utilitarismo mecanicista e o exibicionismo tecnológico passaram a medir os valores dos seres humanos pela posse, deixando de lado os seres que são. Passaram a ter significado o que se tem, não o que se é. Na doce ilusão de que tudo se compra, de uma ou de outra forma, ante também a falência das religiões ortodoxas com as suas promessas infantis e desatualizadas, as criaturas passaram a preocupar-se com o que esperam provocar admiração, aplauso, posição falsa de poder e de liderança, naufragando nos sentimentos que são mais profundos e de alta relevância


CAP 9 - INDIVIDUAÇÃO : O ENCONTRO COM O SELF ( Marlon Reikdal)

9.1 - O ROMPIMENTO ENTRE EGO E INCONSCIENTE
- Nunca é demais lembrar que a consciência em Psicologia Analítica é diferente da consciência definida em “O Livro dos Espíritos”, questão 621. Essa consciência denominada pela Psicologia em geral é a consciência do EGO. E a consciência referida pelo Espiritismo é a consciência Divina, que é semelhante ao Si-mesmo de Jung
- Falar em “Individuação” é necessário, afinal o homem definitivamente, está desconectado de Si. Vivemos as consequências da negação do inconsciente, pois o EGO, no auge do seu poder adoecido, tenta determinar que o homem é somente aquilo que pode ser visto, apalpado e testado, e tudo foge à sua compreensão e ao seu controle, não merece consideração
- Carl Gustav Jung nos acusa de agirmos como jovens inconsequentes quando tentamos menosprezar o inconsciente, pois as influências desse desconhecido são infinitamente mais verdadeiras e lúcidas do que o limitado pensar consciente
- Se vivemos hoje uma sociedade neurótica, é porque vivemos a desunião com nós mesmos. Para Freud, a neurose tem sua causa na recusa de assumir tarefas de desenvolvimento, o que significa uma ruptura do diálogo entre EGO e inconsciente
- Joanna de Ângelis corrobora dizendo : “A existência terrena tem uma finalidade primordial e impostergável, que é a união do EGO com o inconsciente, onde se encontram adormecidos todos os valores jamais experimentados e capazes de produzir a individuação”
- Até chegar à fase adulta nos pautamos na vida exterior, inseguros de nós mesmos, preocupados em construir uma persona sólida para que seja aceita e valorizada pelo mundo. Nesse ponto vamos deixando de ser quem somos
- Se assim nos comportamos, a partir de determinado momento, essa vida interior não vivida começa a exigir mais espaço em nós
- Stein explica que, embora o inconsciente compense a consciência do EGO ao longo da existência toda, na segunda fase da vida, o Si-mesmo, enquanto força propulsora, exigirá a unificação da personalidade total. Em termos teóricos, a primeira metade da vida é tarefa do EGO, num esforço de separação e adaptação, construindo seu lugar no mundo

9.2 - ONDE NASCE O PROBLEMA
- Esse processo de adaptação inicial ao mundo, embora necessário para a instalação e sobrevivência na Terra, precisa ser visto como secundário em relação ao desenvolvimento moral e ao Deus que habita em nós, caso contrário, estaríamos a cultuar, primordialmente, o “deus” mamon
- Stein declara : “Para assumir o Si, é preciso chegar a certo momento em que o EGO agonize, se debata, se perca de si mesmo”
- Joanna de Ângelis apresenta raciocínio idêntico, explicando que nas primeiras fases o EGO desempenha papéis relevantes como o da preservação da vida, dos direitos ao prazer transitórios, do atendimento às necessidades fisiológicas, aos valores pessoais. Mas há momentos em que esse EGO deseja se fixar, constritor, e passa à condição de algoz dominando as paisagens do ser e sombreando -as na tentativa de seu predomínio
- Evidentemente existem pessoas que se opõem, fortemente, à abertura para uma personalidade mais profunda e íntegra pelo simples fato de que não se trabalharam intimamente. Todo aquele que se empenha, incansavelmente, na construção de uma vida pautada na PERSONA, e acredita ser essa personalidade, tem grandes chances de chegar à segunda metade da vida sem mudanças significativas
- Manter essa personalidade intacta, em termos de desenvolvimento psicológico, não é virtude. A vida é transformação, por isso mesmo, a crise pode significar busca, desejo de mudança

9.3 - O SERVO E O SENHOR
- Nas reflexões de Jung, as relações do EGO com os conteúdos do inconsciente desencadeiam um desenvolvimento ou uma verdadeira metamorfose da psique como um todo, e a isso denominou de processo de individuação
- No consciente está o que aprendemos desde a nossa infância, mas no inconsciente encontra-se nossa história milenar. No consciente está o que achamos que devemos fazer ou ser no momento atual, no inconsciente está nossa destinação Divina

9.4 - O SI-MESMO (SELF)
- O Si-mesmo , apresentado por Jung, é o arquétipo central da psique humana e tem um papel e um poder supraordenador
- Ele diz que o destino individual depende em grande parte de fatores inconscientes
- O EGO está para o SI-mesmo, assim como o homem está para Deus. Por isso ele apresenta o SELF como um EU
- O SELF designa o âmbito total de todos os fenômenos psíquicos do homem. Ele expressa a unidade e totalidade da personalidade global, tendo aspectos conscientes e inconscientes
- Ele aparece empiricamente em sonhos, mitos e contos de fadas, na figura de personalidades superiores, como reis, heróis, profetas, salvadores, etc, ou na figura de símbolos de totalidade como o círculo, o quadrilátero, a cruz, etc
- Whitmont faz a seguinte analogia para a compreensão da relação EGO-SELF : Se a personalidade fosse uma cidade, o EGO seria o prefeito. Essa cidade contaria então com moradores que o prefeito nunca viu, e também acabaria descobrindo outras autoridades que não estão sob seu comando, que parecem obedecer a uma autoridade central, cuja existência ele desconheceria
- Essa autoridade central, que é o Si-mesmo (SELF), também poderia ser chamado de “Deus dentro de nós”. Os primórdios de toda a nossa vida psíquica parecem estar inextrincavelmente enraizados nesse ponto, e todos os nossos propósitos mais elevados e supremos parecem estar lutando por ele
- Joanna de Ângelis :
- “O indivíduo à medida que descobre o Si (SELF), consciente da sua realidade e origem divina, faz-se humilde. Até determinado momento da vida, o EGO pode atuar como caprichoso, dominador, porque permanece com mais vigor do que o SELF. Porém, a atração do SELF enseja o arrebentar das algemas para uma conquista interior”
- “ A perda do Si como efeito da vida moderna, esmagados pela propaganda que nos perturba e pelas aspirações e gostos gerais. Muitas pessoas aparentemente exitosas, supostos triunfadores, arrogantes, excêntricos, embora pareçam cheios de si, na verdade compensam a ausência da individualidade com uma explosão do EGO que aturde. São indivíduos atormentados e inseguros buscando atitudes de autoafirmação por estarem desidentificados do Si”
- No livro “O despertar do Espírito, de Joanna ,de Ângelis, nos deparamos com o termo superconsciente como equivalente ao SELF, também conhecido como inconsciente superior, como “Área nobre do Ser é o fulcro da Inspiração Divina, onde se estabelecem os paradigmas orientadores do processo da Evolução”
- Na obra “Encontro com a paz”, no item ”O SELF imortal”, Joanna faz referências a JUNG e sua definição de SELF para depois ampliar o conceito mostrando que se trata de um equivalente do “Princípio Inteligente”, conforme o entendimento da Doutrina Espírita, e diz : “ Convimos afirmar, portanto, que o SELF, ou espírito criado por Deus, não pode fugir `sua finalidade imarcescível na conquista da perfeição”
- Em “Psicologia da Gratidão”, ela cita JUNG para definir SELF, acrescentando à Psicologia Analítica o entendimento de que os arquivos do inconsciente coletivo, à luz da Doutrina Espírita, são o resultado de vivências que o espírito realizou em reencarnações transatas através dos tempos, conduzindo essas heranças impressas em seu períspirito
- O que podemos perceber, tanto em Jung como Joanna, é sobre a impossibilidade de separar e diferenciar algo que é uno. Nós é que ainda não temos um pensamento muito linear, limitado e estagnado, pois o espírito ao mesmo tempo em que é o todo, o somatório das reencarnações anteriores ao longo dos milênios, é também a “centelha divina” impulsionadora do Ser para a perfeição, é a representação de Deus em essência , e, por isso, é o arquétipo ordenador de todo o sistema
- Joanna diz que “ o SELF é o arquétipo básico da vida consciente, o princípio inteligente, somatório de todas as experiências evolutivas, sempre avançando na direção do estado numinoso

9.5 INDIVIDUAÇÃO
- Jung define “individuação” como o processo de formação e particularização do Ser individual
- Em termos psicológicos, a “individuação” é um processo, uma aproximação em direção ao centro e não um lugar específico a ser conquistado. É um caminho, um direcionamento ou uma postura frente à vida
- Dizemos que a “individuação” é um movimento natural, uma necessidade interior, uma força que pulsa dentro de nós para uma realização espontânea dessa unicidade
- Percebemos que o caminho da “individuação” é um encontro profundo com nós mesmos, com a divindade que nos compõe, com esse “a priori” que nos dirige tão fortemente
- Por isso, afirmamos que o “Processo de individuação” é uma oposição à aparência, ao materialismo e ao individualismo

9.5.1 - Oposição à aparência
- Quando o mestre suíço diz que “ a meta da individuação não é outra senão a de despojar o Si-mesmo dos invólucros falsos da persona”, começamos a entender que a construção da persona é um processo de alienação do Si-mesmo
- Para atendermos a um papel exterior, idealizado, vamos nos alienando de nós mesmos, de quem verdadeiramente somos, acreditando, equivocadamente, que assim adaptados, ao que o mundo, supostamente, espera de nós, seremos aceitos e reconhecidos
- Cremos, imaturamente, que se nos encaixarmos dentro dos padrões atuais e somente assim seremos merecedores do amor e do valor sem perceber que entramos em um caminho de fuga desesperada de nós mesmos
- Infelizmente, fomos criados e criamos os valores para atendermos e sermos vitoriosos no mundo, e não vitoriosos do mundo, como nos ensinou Jesus : “No mundo tereis aflições, mas animais-vos, eu venci o mundo
- Ressaltamos que o problema não está em termos ideais nobres, mas na imaturidade de não reconhecermos nossa estrutura moral (aquilo que já temos a priori) para tal empreendimento
- O ideal é uma meta, algo que nos impulsiona, jamais uma obrigação à qual devemos nos impor. Se nos fazemos isso, em geral será por motivos externos, pois Deus não se impõe. E por ser externo, será superficial, falso, passageiro, correndo o risco de nos mascararmos para os outros e para nós mesmos
- A resposta que a psicologia e o Espiritismo nos oferece é que não somos simplesmente um corpo, criados como uma taboa rasa. Existe sempre aquela “a priori”, de Jung
- O grande risco que temos de sabotar nosso verdadeiro desejo de transformação e crescimento interior está em não sermos capazes de suportar a frustração de reconhecermos nossa pequenez. Se não formos capazes de aceitar nossa verdadeira estatura moral, criaremos mais máscaras para fingir par os outros e para nós mesmos o que não somos
- Eis aqui o grande chamado, o encontro com o profundo, representando nas palavras de Jesus o “Processo de Individuação” que tentamos retratar até aqui. É necessário viver o desencontro da “Persona”, perder-se em relação ao mundo, para encontrar o Essencial
- O homem jamais conseguirá desembaraçar-se de si mesmo, em benefício de uma personalidade artificial. A simples tentativa de fazê-lo desencadeia, em todos os casos habituais, reações inconscientes : caprichos, afetos, angústias, ideias obsessivas, fraquezas, vícios, etc

9.5.2 - Oposição ao materialismo
- O estudo da “individuação” vem atestar que enquanto não ouvirmos, contatarmos e atendermos o chamado de nossa alma, mesmo possuindo tudo no mundo, nos sentiremos vazios : vazio de nós mesmos
- No Si-mesmo encontramos as respostas mais profundas e verdadeiras a nosso respeito, aquilo que efetivamente nos realizará e nos tornará mais plenos, tudo o que a ilusão do materialismo promete, mas não cumpre
- A “individuação” é oposição ao materialismo porque privilegia o cuidado interior, o desenvolvimento da transcendência, da superação do convencional e do supostamente adequado para atendimento das necessidades da alma
- Transcender não pode ser entendido como negar ou anular, mas sim como não deixar que essa dimensão impermanente torne a finalidade única ou última

9.5.3 - Oposição ao individualismo
- “Individuação não está orientada contra a norma coletiva, mas orientada apenas de outro modo. Isso não quer dizer que o EGO precisa se opor à sociedade, e sim que ele deve ser regido por um novo paradigma, por um outro deus. Acontece que para a adequação ao coletivo atual, fazemos um processo de anulação do essencial, e mais cedo ou mais tarde, teremos que fazer esse resgate em nós mesmos
- Individuação no sentido de tornar-se único, sem divisão, sem a mistura na massa ou no coletivo, também, pode induzir a um estado de arrogância, quando as pessoas dizem “eu sou mais eu”, ou se creem “analisadas”, No entanto, a busca por “não se misturar” está relacionada ao sujeito que não projeta seus conteúdos no outro, mas isso não quer dizer que é indiferente ao outro
- “Individuação” quer dizer maior responsabilização pelo que é seu, em detrimento dos complexos dos outros, das suas alienações e fugas
- Não se misturar pode ser não se deixar levar pelas aparências do mundo, ao mesmo tempo em que se sabe respeitar as diferenças, e também não se vitimizar, culpar o mundo, constranger os demais com suas dores, porque sendo único, sabe se responsabilizar pela sua própria vida
- Encontrar-se consigo não pressupõe o isolamento ou distanciamento da sociedade, pois isso seria uma forma de alienação
- Conectar-se ao Si-mesmo é conectar-se com a fonte de amor dentro de nós, sem se submeter aos caprichos do mundo
- Reconhecer-se é um processo de humanização, e, por isso, inclui-se como consequência o reconhecimento do outro e a necessidade de intercâmbio com ele

9.6 - INDIVIDUAÇÃO E ESPIRITISMO
- O “Processo de Individuação”, proposto por Jung, significa para nós espíritas. Retomarmos o percurso de nossa evolução moral de onde paramos
- Precisamos ter consciência e aceitar nossas limitações, desencontros, necessidades e impedimentos, e não negá-los, para obter a conduta
- O inconsciente é um arquivo onde se encontram registradas todas as nossa experiências. Que ele é, também, a nascente de todo o nosso potencial, de tudo que seremos daqui para a frente, determinado pela essência, e não pela aparência, ou seja, no inconsciente encontra-se a conexão entre o presente e o passado
- O inconsciente é o elo que não nos permite fugir de quem somos, nem nos desobrigar de quem seremos, por isso, nele encontra-se a ligação entre o presente, o passado e o futuro
- Joanna de Ângelis explica que o Processo de desenvolvimento é comum desejarmos a independência, sem mesmo sabermos do que se trata, confundindo liberdade com libertinagem. Ansiarmos o prazer que pensamos derivar do poder, e arrojamos às aventuras doentias e perturbadoras, em que o sofrimento nos trará maturidade, como o filho pródigo que vivenciou um período angustiante, para somente então pensar em voltar para casa
- Podemos, então, compreender que a “Individuação” está ligada a assumir quem somos até aqui, equacionando com a submissão aos nobres valores latentes no Ser
9.7 - CORAGEM, FÉ E HUMILDADE
- No caminho de descoberta do inconsciente, quando o EGO começa a perceber que é apenas uma pequena parcela de toda a psique, há sempre um choque ou um deslumbramento
- Isso ocorre na medida em que o Eu é obrigado a identificar que, muito menos do que dirigir, ele é dirigido por algo imensamente maior, fora do seu controle consciente
- Vivemos a dificuldade de nos encontrarmos porque assumir-se é algo perturbador
- Jung relata que no contato com o desconhecido, em si, era vivido algumas vezes como uma derrota pessoal, porque se via obrigado a assumir, que até aquele momento, era um sobre si para o EGO, pois necessita abrir mão do suposto controle da vida
- Para adentrarmos o caminho da “Individuação” é preciso se ver pequeno, faltoso , incompleto. Precisamos primeiro assumir que ainda não somos um todo integrado, que nosso funcionamento psicológico atual é fragmentado. Precisamos , também, ter coragem para mergulhar no abismo de nós mesmos, sem traumas ou choques, sem ansiedades ou inquietações
- Por isso, “Individuação” é, antes de tudo, um exercício de coragem, fé e humildade. Somente assim, assumindo a pequenez que estamos, é que podemos permitir viver e sermos governados pela divindade que somos

CAPÍTULO 11 - A PSICOLOGIA DO AMOR (Cláudio Sinoti)
- A criatura humana ainda não encontrou o caminho do amor, não somente na forma do relacionamento a dois, mas em todas as suas expressões
- Por mais que se lute contra o sentimento sublime, nós possuímos uma capacidade natural de amar, por ser algo intrínseco à nossa natureza
- Quando isso não ocorre com naturalidade, é sinal de que existe algum conflito entre o impulso da afetividade, da conectividade com a vida e com o outro, e a consciência, dificultando essa propensão biológica, psicológica e, principalmente, espiritual do ser humano
- A dificuldade de expressão do amor, ou mesmo a descrença que cresce nesse sentimento, é causa de graves problemas para a psique
- Não é à toa que, segundo, Joanna de Ângelis, “Na causalidade atual dos distúrbios psicológicos, como naquelas anteriores, sempre se encontrará como causa o amor ausente”
- Na vida cotidiana, nos acostumamos a ver as misérias humanas, e parece que treinamos nossos sentidos para não as percebermos mais. Precisamos do tocar e do sentir, necessitamos da permuta emocional, carecemos do aprofundamento do relacionamento com o outro, até mesmo para nos conhecermos mais profundamente
- E mesmo sem desejar perceber a tragédia do cotidiano, isso nos acompanha com a culpa, porquanto todos somos responsáveis pelo estado em que a coletividade se encontra. A doença coletiva do desamor é resultado da nossa doença pessoal
- Quando não abrimos espaço ao amor na luz da consciência, a SOMBRA se adensa. Por isso mesmo, a violência eclode no mundo atual, resultado dessa vida sem espaço para o sentimento
- Com o amor que escondemos e não aprimoramos, construímos as guerras do mundo, a exclusão social, e temos orgulho de um “progresso econômico” que deteriora a própria natureza
- A energia psíquica que deveria estar a serviço do amor, nesse mundo que se encontra enfermo, é canalizada para o aprimoramento técnico, e nos tornamos cada vez mais competitivos, perfeccionistas... e insensíveis, tomando às vezes, o nome de profissionalismo que, muitas vezes, ensina que não devemos nos envolver muito com os outros no ambiente de trabalho, senão a produtividade sairá prejudicada

11.1 - TENTANDO COMPREENDER O AMOR
- Se somos os construtores desse mundo carente de amor, também em nós encontra-se a solução, pois o germe desse desenvolvimento encontra-se ínsito na própria criatura
- É longa a caminhada para a Plenitude, e o amor percorre essa jornada, desde a explosão dos instintos à sublimidade dos sentimentos, e o desafio do Espírito é aprender a lidar com as forças que devem estar a serviço do SELF no caminho da individuação, mas que podem atuar de forma destrutiva enquanto são desconhecidas
- O amor se apresenta como a força a ser libertada dos instintos. Já existe em germe no ponto de partida, tal qual uma semente que necessita dos cuidados necessários para florescer
- Mas o caminho de libertação das sensações é muitas vezes longo e penoso, para aqueles que escolhem a prisão dos sentidos
- Nos damos conta de que os conflitos de cunho afetivo são um problema muito mais profundo e sério do que a expressão da sexualidade
- Ademais, os exageros cometidos em nome da liberdade sexual servem muitas vezes como compensação ao vazio de sentimentos, buscando-se a sensação em demasia para tentar compensar a falta de amor
- Complementa Joanna de Ângelis em sua psicologia : “ Os atuais são dias de libido desenfreada, de paixão avassaladora, de predominância dos desejos que desgovernam as mentes e aturdem os sentimentos sob o comando de Eros. Não obstante, o amor está sendo convidado a substituir a ilusão que o sexo automatista produz, acalmando as ansiedades enquanto alça os seres humanos ao planalto das aspirações mais libertadoras”

11.2 - AS FASES DO AMOR
- O aprendizado do amor, segundo Joanna, é feito através de etapas da seguinte forma : “O amor atravessa diferentes fases : o infantil, que tem caráter possessivo, o juvenil, que se expressa pela insegurança, o maduro, pacificador, que se entrega sem reservas e faz-se plenificador”

11.2.1 - O AMOR INFANTIL
- O amor infantil se expressa pela dependência do outro
- Nessa fase é essencial para a criança o acolhimento, o sentir-se amada e protegida, para que o EGO possa estruturar-se de forma saudável
- O excesso de autoridade, a violência, a negligência, dentre outros fatores, revelam-se perturbadores para a formação da psique
- A rejeição da criança, muitas vezes, tem início no período da gestação. A descoberta de uma gravidez indesejada, fruto de uniões apressadas ou sem os devidos cuidados, assim como lares desajustados, cujos pais não têm, faz com quem noção da gravidade e responsabilidade da paternidade, faz com que a tarefa educativa fique nas mãos de pessoas sem preparo

11.2.2 - O AMOR JUVENIL
- A insegurança e a paixão podem ser consideradas as marcas da etapa juvenil
- Nesse mundo tão voltado para as realizações externas, as realizações internas vão sendo deixadas em plano secundário, e isso alimenta ainda mais a nossa insegurança
- O amor é visto como uma ameaça ao EGO imaturo, que tenta controlar todas as coisas para se sentir seguro. Mas se pensarmos no amor como força que liberta, a si mesmo e ao outro, qualquer tentativa de tolher a identidade do outro pode ser qualquer coisa, menos amor
- Quantos são os que tentam escolher caminhos para os outros, limitar suas capacidades de escolha, manter relações de dependências e codependência em nome de um pseudoamor ou de cuidado, quando na verdade estão tentando diminuir a ansiedade gerada por seus medos ou insegurança?
- O indivíduo inseguro nas relações afetivas revela que a autoamor encontra-se enfermo. E são vários os fatores que alimentam essa condição
- O individualismo que marca os nossos tempos é um desses fatores Decorrente do egocentrimo exagerado, nos faz pensar e agir a partir de uma ótica distorcida e imediatista
Autoamor X Narcisismo
- O autoamor provém daquele que mantém uma relação madura e saudável consigo mesmo, com o EU profundo, percebendo os anseios da alma e se esforça por realizá-los
- O narcisista possui como centro de observação o EGO, e a partir dele luta pelas realizações imediatas, que tragam prazer e retorno, sem pensar muito na condição coletiva, distante do seu campo de interesse
- O narcisista somente vai ao encontro do outro se isso lhe satisfaz algum interesse. Já aquele que possui autoamor, relaciona-se com o outro de forma madura e profunda, sem interesses em vantagens pessoais
- Conhecedor da própria SOMBRA, lida melhor com a SOMBRA do outro e a coletiva, e mesmo as experiências dolorosas no relacionamento com os outros transforma em lições para o seu crescimento
- Muitos tentam se esconder do amor, confundindo-o com dependência e imaturidade. Eximem-se de fazer vínculos profundos, e sem se darem conta da sua grandiosidade, vinculam-se ao círculo estreito de realização, buscando saciar as sensações sem se aprofundarem nas questões da vida e no próprio sentimento
- O problema é que, às vezes, esse comportamento é admirado pelo coletivo, pois a ser que consegue realização nas bases do EGO, é muitas vezes aplaudido, mas como ser social, o indivíduo necessita do contato do outro para crescer e se realizar
- Precisamos escutar nossos sentimentos, dar vazão ao que vai em nosso mundo íntimo, curar as feridas e dores que conduzimos. A consciência tem um grande aliado, que nos aponta sempre que seguimos um curso equivocado na vida
- Recordamos que as leis de Deus encontra-se inscritas na nossa consciência, e que, portanto, a consciência maior, o SELF, possui seus mecanismos para detectar quando fugimos das tarefas que temos que realizar. Quem não segue o curso da consciência, tem a SOMBRA a guiá-lo

11.2.3 - O AMOR MADURO
- Quem conquista o amor maduro, após o mergulho profundo em si mesmo, ama sem ser prisioneiro e sem aprisionar o outro
- Pode gostar e se sentir bem com o outro ao seu lado, mas não o coloca na condição de “indispensável” para a sua felicidade
- Não espera que outro seja o príncipe ou a princesa das lendas ou contos de fada, mas sabe-se na condição de alguém que também possui sua SOMBRA e prossegue na jornada, com os naturais limites e possibilidades a desenvolver, pois o amor maduro não aguarda o “outro pleno” para se relacionar
- Exercita o perdão, porquanto compreende as limitações dos outros nas expressões do sentimento e por autoamar-se


CAPÍTULO 12 - O SER VIRTUOSO : A MULHER E O HOMEM DE BEM
12.1 - UMA CRISE DE VALORES
- Jean Paul Sartre e outros existencialistas diziam que, ao perceber que sua existência é radicalmente inautêntica, o homem procura no “Ter” o que não consegue no “Ser”, vagando no materialismo que vai desde o consumismo econômico e sexual até a violência que campeia desordenadamente nos nossos dias
- Para Carl Gustav Jung, “Tais problemas nunca serão solucionados por meio de uma legislação ou por artifícios. Só podem ser resolvidos por uma mudança geral de atitude. E essa mudança não se inicia com a propaganda ou com reuniões de massa, e menos ainda com violência. Ela produzirá efeitos mediante a mudança das inclinações e antipatias pessoais, da concepção de vida e dos valores, e somente a soma dessas metamorfoses individuais poderá trazer uma solução coletiva”
- Esse é um período de grande domínio da comunicação virtual, é também um período em que a incapacidade de comunicação com a psique (alma), se manifesta terrivelmente
- Na era da virtualidade, a mulher e o homem assumem papéis, acumulam tarefas, anseiam por experiências... Abrem mão de valores importantes por um momento ilusório de prazer, perdendo, muitas vezes, a consciência de sua individualidade, sendo o que não se é
- Enquanto não entendermos que o processo visto e percebido fora é a representação dos nossos processos internos, estaremos fugindo dos “assaltos” externos e caindo nas armadilhas dos assaltantes internos. Esses que roubam nossa sanidade, nossos valores, nossa coragem para continuarmos a jornada e até mesmo nossas melhores intenções
- Se com todo o desenvolvimento que alcançamos continuamos sem saber quem somos, e, apesar das centenas de amigos virtuais, ainda nos sentimos solitários, é muito provável que estejamos buscando respostas em um coletivo sem respostas
- Se eu, você e todos nós como indivíduos desprezarmos os valores das nossa alma por medo de enfrentarmos a SOMBRA, onde iremos encontra-los?
- Se tivermos a coragem de abandonar o trilho seguro da massificação e desbravarmos a floresta dos nossos medos, em algum momento veremos florescer uma vida nova


12.2 - ERRANDO O ALVO
- Afirma Winckel : “Tudo o que é reprimido e conservado no inconsciente pode, mais dia, menos dia, causar graves prejuízos ao inconsciente... o mal reprimido permanece sempre mal e tende a se agravar”
- Uma das preocupações de Santo Agostinho era compreender por que Deus permitia que o Mal existisse no mundo
- Jung diz : “A experiência psicológica nos mostra que o Bem e o Mal constituem o par de contrários do chamado julgamento moral e que, enquanto tal, tê sua origem no próprio homem”
- Conciliar os opostos é, então, um desafio muito importante que nada tem com a destruição da moral, pelo contrário, essa conciliação possibilita uma identidade maior com o Si-mesmo
- Quanto mais desenvolvida a nossa consciência, maior a nossa condição de perceber o conflito moral gerado por esse confronto. E Jung prossegue a sua análise sobre o Mal : “Se entendemos então que o Mal habita a natureza humana independentemente da nossa vontade e que ele não pode ser evitado, o Mal entra na cena psicológica como o lado oposto e inevitável do Bem
- Será justamente desse confronto que poderemos ter o benefício de um novo desenvolvimento, o nosso mal estará a serviço do Bem
- É como visitar partes abandonadas da nossa casa, e em cada cômodo que adentrarmos nos surpreendermos com o que encontramos : fotografias, brinquedos, cartas e vez que outra nos depararmos com criaturas asquerosas e assustadoras, mas tudo isso é parte do que somos. É nesse lugar pouco visitado que “...permanecem os impulsos da violência e da agressividade, as paixões escravizadoras, os instintos indomáveis que respondem pelo retardamento da autoiluminação”
- isso nos mostra que somos também responsáveis por nossas partes abandonadas e pelo mal-estar que elas podem nos causar. Fazer essa faxina é trabalho cansativo e nada fácil, é sem dúvida uma luta moral, pois ao mexer em velhas lembranças, doloridas feridas, confrontamo-nos com nossas verdades obscura
- Nesses momentos relembramos o passado, sentimos remorso e, muitas vezes, arrependemo-nos do que fizemos e também do que não fizemos
- Mas também iremos nos deparar com a nossa autotraição, desamor, autodestruição e excessos, com todos os momentos em que fomos injustos conosco e com os outros
- Tornamo-nos adultos e já deveríamos ter abandonado nosso infantilismo, como argumenta Joanna : “Quando se trata de uma pessoa madura psicologicamente, desperta e procura ao meios para a reparação. Porém, quando se é infantil emocionalmente, foge-se, tomado pela vergonha do erro, procurando mecanismos de autojustificação ou de autopunição, que desencadeiam o mal adormecido e faz que se converta em mágoa contra si mesmo ou contra aquele que foi seu causador”
- O medo é que nos mantêm presos à condição de infância psicológica, ansiamos por segurança e acreditamos poder controlar as circunstâncias da vida
- Evitamos todas as situações de testes e ingenuamente nos deixamos levar na ilusão de que alguém ou mesmo Deus nos salvará. Em nossa soberba disfarçada, queremos ter certezas para mudar, queremos de preferência uma transformação instantânea, um resgate, a proteção
- Compreender que o mal existe em nós nos possibilita uma transformação tão profunda que nos leva ao confronto direto com os nossos conteúdos reprimidos, e inevitavelmente confrontaremos com a SOMBRA, como esclarece Joanna de Ângelis: “Enquanto essa área de SOMBRAS não seja clareada pela razão, a ignorância predomina e os instintos governam, mesmo que o raciocínio pareça comandar-lhe os hábitos e as ações”
- Não que isso signifique que a SOMBRA é má, ela possui qualidades que, ao serem reprimidas, permanecem no estado primitivo e infantil, mas essas mesmas qualidades podem embelezar a nossa vida
- Se estamos “errando o alvo”, nosso trabalho agora é justamente tentar acertar, achar a medida certa das nossas atitudes e intenções
- Sempre que nos comprometemos moralmente com o processo de autodescobrimento, a SOMBRA aparece carregada de possibilidades, trazendo nossas potencialidades não trabalhadas

12.3 - O QUE É SER VIRTUOSO
- O homem virtuoso é aquele que se empenha em aprimorar-se, em ser melhor do que ele é
- Em todo processo de autoconhecimento encontraremos resistências internas, sem contar, é claro, com as externas, mas, na maioria das vezes, perceberemos que essas resistências esbarrarão em obstáculos construídos pelo EGO e que no momento de abrirmos mão, ou melhor, de sacrificá-los, o orgulho e o egoísmo não nos permitem
- A virtude passa pela “justa medida”, qualquer excesso deixa de ser virtude, tudo o que direcionamos para o extremo se torna prejudicial, até mesmo o que chamamos de virtude
- Excesso de “bondade” leva, indubitavelmente, à exploração, excesso de “cuidados” pode gerar posse, ou seja, escolhas não conscientes, atitudes automáticas ou boas intenções podem ser um sinal de que a SOMBRA da virtude está atuando no inconsciente. Tudo que vai para o excesso vira vício
- Somos todos potencialmente virtuosos. Inevitavelmente somos direcionados à transformação para melhor, graças ao Arquétipo Primordial, Deus em nós, que nos impulsiona ao autoencontro, autodescoberta e ao aprimoramento do ser em direção ao Bem
- Individuação não é sinônimo de perfeição, pois aquele que busca individuar-se não tem a mínima pretensão de tornar-se perfeito. Ele visa completar-se, e para completar-se terá que aceitar o fardo de conviver conscientemente com tendências opostas, irreconciliáveis, inerentes à sua natureza, tragam estas conotações de bem ou de mal, sejam escuras ou claras
- Quanto mais conectados conosco estivermos, quanto mais verdadeiramente vivermos e nos esforçarmos rumo ao crescimento, maior será a nossa capacidade de perceber Deus em nossas vidas, pois, “as grandes virtudes são a presença do Amor e da sabedoria de Deus pulsando nas artérias da alma, até exteriorizarem-se em forma de ações dignificantes e sacrificiais”

12.4 - O HOMEM (E A MULHER) DE BEM
- O que nos falta para sermos virtuosos, e nos transformar em mulheres e homens de bem? Será que já não é momento de abaixarmos as “armas” e mergulharmos fundo no nosso mundo interno, o mundo interno, o mundo do feminino, que é tão negligenciado, e descobrirmos toda a riqueza que abandonamos para sobreviver no mundo masculino, o mundo externo?
- Joanna de Ângelis diz: “A conquista dessa robustez e grandeza moral somente é possível pela inversão de valores que se apresentam no mundo exterior como portadores de poder e de glória, estando adormecidos no Si-mesmo, que deve ser conquistado com decisão, em processos vigorosos de reflexão e de ação iluminativa, de forma que nenhuma SOMBRA consiga predominar no aquisição da plenitude”
- Não é uma questão do gênero feminino, mas de reconquistarmos o que se deixamos para trás : a delicadeza, a beleza, a doçura, a simplicidade...
- E quem sabe poderemos um dia acordar e , ao olharmos no espelho, nos darmos conta que : “Um dia, vivi a ilusão de que ser homem bastaria, que o mundo masculino tudo me daria. Do que eu quisesse ter. Que nada! Minha porção mulher, que até então se resguardara, é a porção melhor que trago em mim agora. É que me faz viver

12.4.1 - “O verdadeiro homem de Bem é aquele que cumpre a Lei de justiça, de Amor e Caridade, na sua maior pureza”
- A justiça começa quando nos empenhamos em descobrir o que ferimos e mutilamos em nós e nos outros
- O teste do amor será no momento que percebemos que precisamos amar nossas partes rejeitadas, desagradáveis e perversas
- Descobrir-mos quanta caridade somos capazes de fazer diante de nossas fraquezas


12.4.2 - “Se ele interroga a consciência”
- Sobre seus próprios atos
- A si mesmo perguntará se violou essa lei
- Se não praticou o mal
- Se fez todo o Bem que podia
- Se desprezou voluntariamente alguma ocasião de ser útil, - Se ninguém tem qualquer queixa dele
- Se fez a outrem tudo o que desejara lhe fizessem

12.4.3 - “Deposita fé em Deus”
- Na sua bondade, na sua justiça e na sua sabedoria
- Sabe que sem a Sua permissão nada acontece e se Lhe submete à vontade em todas as coisas
- Toda vez que entramos em tentativa de controle da vida, teremos como resultado a frustração do EGO e brigamos com Deus, esquecendo que ele está dentro de nós

12.4.4 -“Tem fé no futuro, razão por que coloca os bens espirituais acima dos bens temporais”
- Dai a Cesar o que é de Cesar e dai a Deus o que é de Deus
- Quando a necessidade de segurança do Ego se prolonga demasiadamente, gastando muito tempo acumulando, sejam bens, problemas, pessoas, deixamos de “Ser” para “Ter”
- Quantas vezes passamos a vida dedicada aos cuidados com os entes queridos e não damos conta que não estamos vivendo a nossa vida? Quais são as desculpas que eu encontro para não fazer o que tenho que fazer por mim?
- Se quisermos uma vida melhor no futuro, precisamos cuidar da vida presente, desapegarmo-nos desde já de tudo o que bloqueia a nossa felicidade verdadeira, precisamos ter coragem para sermos felizes

12.4.5 - “Sabe que todas as vicissitudes da vida, todas as dores , todas as decepções, são provas ou expiações e as aceita sem murmurar”
- A maturidade do EGO é percebida pela capacidade da pessoa em lidar com as frustrações, ou seja, não usar a queixa como justificativa para manutenção da posição de vítima da vida
- O EGO imaturo não aceita o sofrimento decorrente das frustrações. Ele sofre porque não quer sofrer e nesse ciclo de sofrimento não nos damos conta que somos os causadores dos nossos sofrimentos, se não criássemos tantas expectativas e não tentássemos controlar a vida
- Agimos como agricultores imprudentes que não selecionam as sementes que vão plantar, mas acreditam que no futuro terão uma linda colheita de milho

12.4.6 - “Possuindo o sentimento de caridade e de amor ao próximo, faz o bem, sem esperar paga alguma, retribui o mal com o bem, toma a defesa do fraco contra o forte e sacrifica sempre seus interesses à justiça”
- Amar incondicionalmente o outro deve ser uma experiência sem barganhas, sem condicionamentos, sem a intenção de modificar o outro para que ele atenda às nossas expectativas, amar exatamente a pessoa como ela é
- A lei de Amor nos propõe educar, compreender, aceitar o outro, vendo nele alguém que, como nós, encontra-se no processo de autoaprimoramento, de autoconstrução e que, juntos, cada um trilhando o seu caminho, estaremos na busca de nós mesmos e, por isso, não temos o direito de intervir nas suas escolhas

12.4.7 - Encontra satisfação nos benefícios que espalha, nos serviços que presta, no fazer ditoso dos outros, nas lágrimas que enxuga, nas consolações que prodigaliza aos aflitos. Seu primeiro impulso é para pensar nos outros, antes que em si, é para cuidar dos interesses dos outros antes do próprio interesse. O egoísta, ao contrário, calcula os proveitos e as perdas decorrentes de toda ação generosa
- Não é o EGO que comanda, ele encontra-se a serviço do SELF, não é mais a percepção pequena das coisas, aqui o olhar se amplia e nos entregamos a uma causa muito maior que o nosso EGO
- Não é desamor, pelo contrário, o nosso autoamor nos preenche tanto que as necessidades diminutas do EGO já não precisam ser atendidas, já não precisamos usá-las como desculpa para o nosso egoísmo

12.4.8 - “O homem de Bem é bom, humano e benevolente para com todos, sem distinção de raças nem de crenças, porque em todos os hom o outroens vê irmãos seus”
- Só achamos que somos melhores porque não nos conhecemos, adiamos o nossa trabalho de busca interior o que dificulta aceitarmos o outro
- Durante a vida vamos criando padrões do que é certo e do que errado e ficamos rígidos e engessados neles, toda vez que encontramos pessoas que não se encaixam sobre elas nesses padrões, nós os rejeitamos e criamos conceitos pré-concebidos
- Preconceito é o julgamento que faço de pessoas ou situações sem conhecimento, são os nossos “achismos”. Assim, o primeiro passo é identificá-los
- Precisamos trazer a SOMBRA para perto, conhecê-la, integrá-la e amá-la, para que possamos nos aceitar e aceitar o outro. Se não reconhecermos o Mal que reside em nós, tentaremos exterminá-lo no mundo

12.4.9 - “ Não alimenta ódio, nem rancor, nem desejo de vinganças; a exemplo de Jesus, perdoa e esquece as ofensa e só dos benefícios se lembra, por saber que perdoado lhe será conforme houver perdoado”
- Enfrentamos o desafio de entender e compreender as nossas emoções, esse impulso que provoca reações imediatas, que nos leva a encontrar, muitas vezes, a nossa natureza animal, afetando nossa vida quando não é devidamente controlada
- Nesse processo emocional, o perdão é atitude fundamental para o prosseguimento do nosso caminhar. Perdoar aqueles que nos machucaram durante a vida, incluindo a nós mesmos
- Começaremos a tarefa quando entramos em contato com a dor original, só então será possível localizar a nossa parte ainda limitada e machucada que causa sofrimento em nossa vida e perdoá-la, porque, à medida que aprendemos a nos perdoar, perdoaremos o outro
- Para perdoar verdadeiramente é preciso conhecer as emoções motivadoras da mágoa, do rancor e do ressentimento

12.4.10 - “É indulgente para as fraquezas alheias, porque sabe que também necessita de indulgência e tem presente esta sentença do Cristo : “Atire a primeira pedra aquele que se achar sem pecado”
- Cometer erros não é o nossa maior problema, a questão é quando não os reconhecemos e, pior, por não reconhecê-los, transferimos os seus efeitos nocivos aos outros e o condenamos
- Viramos então juízes das causas alheias e batemos o nosso martelo toda vez que alguém comete um equívoco

12.4.11 - “Nunca se compraz em rebuscar os defeitos alheios, tampouco em evidenciá-los. Se a isso se vê obrigado, procura sempre o bem que pode atenuar o mal”
- Tomar consciência da nossa inferioridade nos dará maiores possibilidades de correção da SOMBRA, pois afastada da consciência dificilmente será corrigida
- Sem contar com o perigo de que, em um momento de pouca vigilância, o conteúdo reprimido emerge repentinamente fazendo fracassar os nossos esforços e as nossas melhores intenções
- É no defeito que enxergo no outro que a minha SOMBRA aparece, por isso é muito fácil ver a falta do outro, apontá-la e condená-la
- Aprendemos a reprimir muito de nós, passamos boa parte da nossa vida colocando tudo dentro de gavetas e quando ficam cheias e não fecham, terminam por mostrar o conteúdo que insistíamos em guardar

12.4.12 - “Estuda as tuas próprias imperfeições e trabalha incessantemente em combatê-las. Todos os seus esforços emprega para poder dizer, no dia seguinte, que alguma coisa traz de melhor do que na véspera”
- Não pode existir processo de autoconhecimento sem autoavaliação consciente; precisamos todos os dias avaliar o que fizemos e o que podemos fazer ainda
- Se tivermos uma ideia da pessoa que queremos ser, precisamos acreditar que ela já existe em nós. Precisamos só abrir espaço para ela surgir, isso significa também que a pessoa que não queremos ser também existe e precisamos conhecê-la, pois ele reside em algum lugar do nossa inconsciente
12.4.13 - “ Não procura dar valor ao seu espírito, nem aos seus talentos, a expensas de outrem; aproveita, ao revés, todas as ocasiões para fazer ressaltar o que seja proveitoso aos outros”
- Muitas vezes, por necessidades infantis não atendidas, nos tornamos pessoas com baixa autoestima, e por não conseguirmos reconhecer o nosso valor precisamos dessa confirmação vinda de outras pessoas
- O problema é que, muitas vezes, como recurso compensatório, desenvolvemos uma atitude de superioridade e nos colocamos acima das demais pessoas, então precisamos diminuí-las para nos sentir grandiosos
- Desejarmos ser o que não somos para atender às expectativas alheias força-nos a criar uma “persona”, e perdemos o contato com a nossa essência, perdemos o endereço da nossa própria casa
- Se duvidamos da nossa capacidade de despertar amor e admiração, provavelmente procuraremos nos outros a admiração que não sentimos por nós mesmos, e isso gera sempre relações danosas e dependentes
- Muitas vezes, o comportamento bondoso, por exemplo, é decorrente do não reconhecimento do próprio valor, e pensamos que atendendo as necessidades dos outros seremos reconhecidos ou amados
- O nosso ato de bondade não deixa de existir, nem isso quer dizer que não sejamos “bons”, mas a questão é que ficamos dependentes desse comportamento (vicioso) para termos “valor”, em vez de fazermos o bem pelo bem que o bem faz. Em outras palavras, nossa atitude não favorece o nosso crescimento psíquico
- Se nossa proposta é o autoaprimoramento, devemos buscar desenvolver os valores necessários para o nossa crescimento sem a preocupação de receber o reconhecimento do outro; seremos melhores por que merecemos ser melhores, porque nos amamos
- Dessa forma, não precisamos diminuir os outros, pelo contrário, reconheceremos que as qualidades do outro podem nos ajudar na nossa caminhada

12.4.14 - “Usa, mas não abusa dos bens que lhe são concedidos, porque sabe que é um depósito, de que terá de prestar contas e que o mais prejudicial emprego que lhe pode daar é o de aplica-lo à satisfação de suas paixões”
- O vazio existencial não pode ser preenchido por coisas nem por pessoas, e sempre que descuidamos das questões fundamentais da alma, caímos no risco de nos deixar envolver por paixões frívolas e ilusórias
- Tudo que temos deve estar a serviço do nosso crescimento, mas se fazemos um uso neurótico das coisas, teremos um resultado neurótico de tudo
- Estamos virando uma sociedade de acumuladores, e tudo a que não damos um direcionamento produtivo fica inútil, não frutifica, tornando-se estéril

12.4.15 - “Finalmente, o homem de bem respeita todos os direitos que aos seus semelhantes dão as leis da Natureza, como quer que sejam respeitados os seus”
- Um dos reflexos da falta de autoconhecimento é a incapacidade de respeitar os outros e, é claro, a si mesmo
- O respeito que não sentimos por nós será projetado no outro nas nossas atitudes rudes, agressivas, intolerantes e arrogantes

12.5 - ESPELHOS DA ALMA
- Nós nos preparamos para uma grande aventura, resolvemos os nossos vulcões emocionais, protegemos os nossos sentimentos, nos resguardamos de perigos imaginários e partimos, só não sabemos para onde estamos indo
- A viagem não é fácil, mas a inocência ajuda a chegar. E é nesse momento que nos damos conta que começa a grande aventura da vida, uma parte preciosa que faltava em nossa personalidade se aproxima e iremos juntos desbravar o deserto da nossa solidão, arrancar os baobás da SOMBRA, rever os planetas de nossos complexos, encontrar a serpente da consciência, aprender a cativar...Só então iremos descobrir que precisaremos voltar
- Refazer o caminho, consertar os erros, rever conceitos, transformar-se exatamente na pessoa que podemos ser, com a certeza que as dificuldades do caminho nos fizeram fortes o bastante para continuarmos doces, que as tristezas aprimoraram a nossa capacidade humana o suficiente para lutarmos por nossa felicidade
- Quando lá chegarmos, não estaremos preocupados com o que esperam de nós, pois não seremos iguais a ninguém, agora seguiremos o nosso coração. E quando lá chegamos um espelho nos espera : O espelho da alma

13 - JOANA DE ÂNGELIS RESPONDE
- Perg : Em sua proposta psicológica, a Benfeitora estabelece : “É necessário aprender-se a amar, porquanto amar também se aprende”. Existe alguma pré-requisito ou condicionamento para que se inicie esse aprendizado?
- Resp : “O Espírito conduz de uma para outra existência todas as aquisições positivas e negativas do aprendizado evolutivo
- Porque possui em germe, a Divina essência do amor, tem necessidade de fazê-lo germinar, quando o descobre durante a vilegiatura carnal
- Invariavelmente, a primeira visão do recém-nascido é o rosto jubiloso de quem lhe fez o parto, expressando amor, ternura, felicidade, por havê-lo libertado do cárcere uterino e conduzido aos horizontes amplos da jornada humana
- Esse sentimento é manifestado pela presença da oxitocina, também denominada como o hormônio do amor, que o feto absorve dos paia, produzindo-lhe a sensação de imenso bem-estar
- À medida que ocorre o desenvolvimento intelecto-moral, o amor bem-direcionado expande-se e predomina sobre os instintos agressivos, predispondo o ser para as atividades dignificadoras que lhe estão reservadas
- Desse modo, o pré-requisito para o aprendizado já se encontra no ser recém-nascido, que é a presença do amor de Deus expresso nesse hormônio produzido pelo hipotálamo
- Embora haja discussão científica em torno da função antiestressante da oxitocina, tem-se constatado os benefícios que dela resultam na manifestação da afetividade e da alegria de viver








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